Tenho por hábito caminhar. E
nessas várias caminhadas acostumei-me a observar a profanação a que estão
votadas as nossas estradas. Maço de tabaco, garrafa de água, pacote de
pastilhas elásticas... Enfim, é lixo a olho visto!


Infelizmente, este é um fenómeno
transversal a todo o Portugal. Quem habita Lisboa bem o sabe. Numa recente visita
ao Porto pude atravessar a histórica Ponte D. Luís e vislumbrar a maravilhosa
vista do rio Douro ladeada pela Ribeira e pelas históricas Caves de Vinho. No
entanto, o que deteve a minha atenção foi as folhas amarrotadas de jornal
espalhadas à entrada da Ponte D. Luís, que estava em obras, esvoaçando por
entre passos contempladores de turistas nacionais e estrangeiros. Quando até o Best European Destination 2017 vê um dos seus mais emblemáticos ex-libris
assim desmazelado, dá que pensar...
O que choca nem é a visão do lixo
em si, é sim o que daqui podemos extrapolar, é a forma como as pessoas não se
sentem, o modo como não cuidam do que é seu, do que é nosso, do que é de todos!
Parece que o coração não bate mais depressa. Parece que o orgulho nacional se
esgota nas vitórias da Seleção Nacional de Futebol Masculino. Impera um deixa-andar para com as pequenas coisas
do dia-a-dia que marcam uma diferença grande quando o cidadão estrangeiro está
de visita. O modo como os locais se comportam e estimam o seu meio é algo que
fica na retina de quem passa. Provavelmente só quem já teve a oportunidade de
viajar a outro país compreende este pensamento. Fazer um bom serviço à Pátria
não é apenas andar a pregar que Portugal é muito bom e bonito na comunicação
social, é também e sobretudo fazer com que tal se concretize de verdade.
Todos sabemos que o Estado não
chega a todo o lado. Os incêndios de Junho e Outubro queimaram também a réstia
de inocência que poderíamos ainda ter sobre esta questão e obrigaram a chegar à
seguinte conclusão: não podemos continuar à espera, temos de agir! Cada um tem
de cuidar mais bem do seu espaço, cada um tem de parar de atirar a garrafa de
água pela janela do carro e passar a atirá-la para o caixote de lixo que está
apenas 500 m mais à frente. Não podemos estar sentados na cadeira do jardim a
ver o lixo acumular-se à beira da estrada enquanto lamuriamos que a Junta não
vem... se a Junta não pode, as “divorciadas” podem! Uma “divorciada” carrega o
saco e a outra “divorciada” apanha o lixo. Por que isto também é a força da
Sociedade Civil!