Tenho por hábito caminhar. E
nessas várias caminhadas acostumei-me a observar a profanação a que estão
votadas as nossas estradas. Maço de tabaco, garrafa de água, pacote de
pastilhas elásticas... Enfim, é lixo a olho visto!
Este verão decidi agir. Calcei
umas luvas, peguei num saco do lixo e lá me fiz aos caminhos que tantas vezes
percorro em lazer. Quase nem precisei de sair de casa para me deparar com uma
garrafa da nossa maravilhosa água das Caldas de Penacova à beira da estrada.
Uns passos mais à frente, de novo me tive de debruçar para recolher uma garrafa
de sumo. Por estrada acima, encontrei pacotes de lenços de papel, muitos maços
de tabaco e muitas mais garrafas de água. Até um pack de gelados e um
recipiente de óleo de motor estavam abandonados pelo caminho. E foi com grande
tristeza que me deparei com uma pulseira das nossas Festas do Município
prostrada na estrada, bem mais longe do recinto do evento do que do local onde
deveria ter sido depositada: o caixote do lixo. O lixo que recolhi excedeu
largamente as minhas previsões. Contava que um saco desse para a ida e volta,
mas não. Enchi um só na ida, obrigando a nova incursão para recolher o
restante.
No total dois sacos. Dois sacos
demasiado cheios. Cheios de lixo atirado pela janela de carros que passam.
Cheios de lixo atirado por nós que aqui vivemos! E passada uma, talvez nem duas
semanas, de novo o lixo voltava a habitar os terrenos que todos nós galgamos!
Infelizmente, este é um fenómeno
transversal a todo o Portugal. Quem habita Lisboa bem o sabe. Numa recente visita
ao Porto pude atravessar a histórica Ponte D. Luís e vislumbrar a maravilhosa
vista do rio Douro ladeada pela Ribeira e pelas históricas Caves de Vinho. No
entanto, o que deteve a minha atenção foi as folhas amarrotadas de jornal
espalhadas à entrada da Ponte D. Luís, que estava em obras, esvoaçando por
entre passos contempladores de turistas nacionais e estrangeiros. Quando até o Best European Destination 2017 vê um dos seus mais emblemáticos ex-libris
assim desmazelado, dá que pensar...
O que choca nem é a visão do lixo
em si, é sim o que daqui podemos extrapolar, é a forma como as pessoas não se
sentem, o modo como não cuidam do que é seu, do que é nosso, do que é de todos!
Parece que o coração não bate mais depressa. Parece que o orgulho nacional se
esgota nas vitórias da Seleção Nacional de Futebol Masculino. Impera um deixa-andar para com as pequenas coisas
do dia-a-dia que marcam uma diferença grande quando o cidadão estrangeiro está
de visita. O modo como os locais se comportam e estimam o seu meio é algo que
fica na retina de quem passa. Provavelmente só quem já teve a oportunidade de
viajar a outro país compreende este pensamento. Fazer um bom serviço à Pátria
não é apenas andar a pregar que Portugal é muito bom e bonito na comunicação
social, é também e sobretudo fazer com que tal se concretize de verdade.
Todos sabemos que o Estado não
chega a todo o lado. Os incêndios de Junho e Outubro queimaram também a réstia
de inocência que poderíamos ainda ter sobre esta questão e obrigaram a chegar à
seguinte conclusão: não podemos continuar à espera, temos de agir! Cada um tem
de cuidar mais bem do seu espaço, cada um tem de parar de atirar a garrafa de
água pela janela do carro e passar a atirá-la para o caixote de lixo que está
apenas 500 m mais à frente. Não podemos estar sentados na cadeira do jardim a
ver o lixo acumular-se à beira da estrada enquanto lamuriamos que a Junta não
vem... se a Junta não pode, as “divorciadas” podem! Uma “divorciada” carrega o
saco e a outra “divorciada” apanha o lixo. Por que isto também é a força da
Sociedade Civil!


