Quando a Pandemia Covid-19 obrigou grande parte da população mundial a suspender as suas vidas e refugiar-se em casa, muitos foram os que aproveitaram a forçada clausura para dar largas às paixões que o exigente calendário do dia a dia tantas vezes não permite cultivar. Outros, inclusive, aventuraram-se por terrenos desconhecidos e até houve quem desse uma volta de 180º à sua rotina e partisse para um novo ofício, mais bem-adaptado ao “novo normal”.
Estou-me a referir tanto àqueles que retomaram a pintura, como aos que começaram a fazer pão, e aos corajosos que trocaram o emprego condenado ao fracasso pelo vírus pelos novos mundos das profissões digitais.
Fruto da minha profissão, não pude ficar em casa. E como tal, não, não foi no lockdown 2020 que finalmente escrevi o tal livro (um dia hei de cumprir essa ambição!). O meu vício pandémico foi mais ocioso. E também não, não subscrevi a Netflix. Confesso que a maioria das séries não me atrai. Sou mais de filmes. Em 2 horas está visto. Contudo, não sei o que me deu, mas decidi voltar à pré-adolescência, e voltar a ver wrestling em força.
Sim, leram bem: o meu vício pandémico foi o wrestling! Passada uma semana após o encerramento geral subscrevi o WWE Network para voltar ao vício dos velhos tempos. A WWE Network é a plataforma de streamingda maior organização de luta livre mundial. A Netflix do wrestling, portanto. Esta enorme base de dados contem, não só todos os principais eventos que decorrem durante o ano, como também vídeos que remontam aos anos 70 do século passado. Um autêntico santuário de conhecimento para os apaixonados por esta tão polémica e controversa forma de desporto/“entretenimento desportivo”, que no nosso país viu o seu expoente máximo de popularidade ser atingido entre 2005 e 2008. Nessa altura bem me lembro de ler o livro "Bem-vindo ao Mundo do Wrestling", no qual o locutor da Rádio Comercial, Diogo Beja, confessava que a sua paixão de menino pela luta livre também tinha estado hibernada durante muitos anos...
Se ainda hoje, ano e meio volvido desde o começar deste período tão singular das nossas vidas, o vírus não para de encher os noticiários, então recordem-se do que era o nosso dia a dia nos primórdios da pandemia. É que já me não chegava o Covid todo o dia no trabalho, era só o que mais faltava ter de continuar a levar com o vírus também em casa através do ecrã de uma televisão que me vi forçado a ver longe da família durante quase 2 meses! Assim, dia após dia, privado da beleza “escarpante” dos montes e vales da minha terra, Penacova, confesso que me fartei. E então, nos ecrãs do meu televisor e computador, onde outrora o noticiário era rei, passou apenas a dar wrestling. Foram torradas com wrestling, foi bife de perú com wrestling, foi bacalhau com wrestling! Sempre que podia, digitava “wwe network” no Google e lá escapava eu para esses tempos de menino há muito idos. E mais, pude finalmente viver o aparecimento dos grandes lutadores que eu já conheci maduros. Vi o errático Rocky Maiviatransformar-se no carismático Dwayne The Rock Johnson. Vi o insosso Ringmaster evoluir para o icónico Stone Cold Steve Austin. Vi todo o ano de 1997 da WWE, o ano da metamorfose que trouxe o wrestlingdo passado para o modelo que conheci no final de 2005, quando, ainda um miúdo de 12 anos, decidi pela primeira vez sintonizar na SIC Radical para ver Jonh Cena, Shawn Michaels, Triple H e Kurt Angle no Monday Night Raw.
Enfim, revivi muitas coisas e sobretudo descobri outras mais. E se, durante uma década a paixão pelo wrestling esteve, sem dúvida, adormecida no desinteresse em que esse espetáculo para mim se havia transformado, a verdade é que, ao subscrever a biblioteca digital da WWE, pude voltar a ser feliz ao apreciar com outra maturidade esta magnífica forma de desporto/”entretenimento desportivo”.
Cada um teve o seu vício pandémico. O meu not guilty pleasure foi o wrestling. Qual foi o vosso?