domingo, 28 de maio de 2017

Uma bênção para a vida!


Hoje, dia da Bênção das Pastas encerra-se definitivamente a última Queima das Fitas enquanto estudante. É precisamente a saudade destas semanas académicas que motivam estas palavras. A Queima das Fitas foi sempre tempo de reencontrar os amigos de escola. Uns mais novos, da minha idade, outros mais velhos, sem idade. Todos com estórias para contar. Estórias que já sabemos de trás para a frente, mas que sabe sempre bem ouvir uma vez mais.

É impressionante quão depressa o tempo passa! Ainda parece que foi ontem que ouvimos na Praxe dizerem Estas são as pessoas que vão partilhar convosco os próximos 6 anos. Estes vão ser os melhores 6 anos da vossa vida. E aproveitem bem que passa depressa! E passaram. E mais impressionante ainda é a riqueza desses dias. Dias preenchidos com muitas páginas viradas de livros, sebentas, cadernos... da Internet! Preenchidos com noites mal dormidas, culpa dos projetos extracurriculares, culpa dos jantares, culpa dos convívios...

Muitos amigos fizemos, muitos horizontes abrimos... certamente que se assim foi, a Universidade cumpriu um dos seus objetivos fundamentais como Edifício do Conhecimento: ensinar a pensar.

Hoje os extremos tocaram-se. Depois de uma semana de vida “profana”, eis que surge a Palavra Sagrada para desejar a melhor sorte aos finalistas. No interior da Sé Nova, demasiados flashs até podem cegar a visão para o verdadeiro significado desta cerimónia. O que levamos daqui é a mensagem mais uma vez renovada de que existe uma Força maior que dá sentido ao nosso mundo, uma Força que faz as pedras do chão não ser tão duras quando caímos e uma Força que dá aos raios de sol mais intensidade para ousarem brilhar quando escondidos atrás das densas nuvens que invariavelmente teremos de enfrentar. E, Fé à parte, não se esqueçam do papel fundamental que a vossa família teve neste percurso, é verdadeiramente a eles que devem pedir um autógrafo ou uma "selfie". E para a vida um conselho: ajuda o teu irmão que nunca te faltará uma mão!

No campo pessoal, esta Bênção tem um significado redobrado. Acontece que o Padre que coordenou a cerimónia e desejou aos finalistas os melhores sucessos no futuro é meu conterrâneo e praticamente vizinho meu. O coração bate assim ainda mais depressa ao escutar as suas palavras no final da cerimónia. O Padre Paulo é mais um exemplo do tremendo potencial intelectual que emane das mais belas paisagens do distrito de Coimbra: Penacova, pois claro!

Desejo a todos que estes anos de Universidade não tenham sido efetivamente os melhores das vossas vidas, pois espero que ainda melhores venham. Felicidades a todos e força para o que há de vir!

sábado, 13 de maio de 2017

Viver pelos dois!


“Amar pelos dois”. Um cliché do drama amoroso que as telenovelas celebrizaram. “Eu sei que não gostas de mim tanto quanto eu gosto de ti, mas eu posso gostar pelo dois e com o tempo vamos aprender a amarmo-nos um ao outro”. O habitual laivo de desespero quando vemos a paixão de uma vida a fugir da nossa mão. Habitualmente acompanhado em fundo por uma qualquer música em voz anglo-saxónica com acordes eletronicamente tristes.

No fundo é só isto que Luísa e Salvador Sobral nos trazem nos 16 versos da canção portuguesa que acaba de ganhar o Festival da Eurovisão 2017. Não temos a mulher desesperada nem a balada comercial de fundo... mas temos um rapaz de 27 anos que se funde com os acordes assim que o palco escurece e os isqueiros e modernas luzes de telemóveis se acendem à volta, fazendo a audiência viajar no tempo até ao cenário lúgubre de um filme noir dos anos 40.

É nessa fusão do corpo e da voz com os acordes e a mensagem da canção composta pela irmã Luísa que o intérprete Salvador se assume com uma espécie de artista que já há muito não se via merecer pela parte do grande público tão enorme notoriedade. Nas suas próprias palavras quando recebeu o prémio no palco de Kiev, há demasiada “fast-food music” hoje em dia, que dá muito dinheiro, mas não passa de mais do mesmo... “mastiga e bota fora” como cantavam os Taxi no seu maior êxito, “Chiclete”. Entre todas as 26 músicas finalistas da Eurovisão, a portuguesa era a mais simples de todas, não havia nem grandes efeitos luminosos nem passadeiras rolantes, apenas e tão somente: arte!

A sublimação artística que penetra de rompante o corpo de Salvador, o divinal transe que toma o seu corpo à medida que é atingido pelos versos que acaba de cantar, exemplarmente acompanhados com o piano em fundo é uma lição de paixão a toda a sociedade global. Uma sociedade que nos esfomeia com o ideal “como é que eu posso ganhar mais dinheiro?”, em vez de nos fartar com o “como é que eu posso ser mais feliz?”. O que acabámos de assistir na televisão é isto: não é só a mulher desesperada a ver a paixão da sua vida a fugir-lhe das mãos, não! Critiquem-me por ser romântico, mas esta é a alegoria perfeita para chamar de volta a paixão às coisas que fazemos no dia-a-dia!

E é um enorme orgulho que da mesma cidade donde saiu Éder, o homem que fez o golo decisivo que nos deu o Europeu de Futebol 2016, saia também Luís Figueiredo, o responsável pelos arranjos da música que nos presenteia hoje com o Europeu das Canções 2017. Quem sabe quantas mais conquistas nacionais terão o selo de Coimbra? É um orgulho ainda maior ser de Coimbra por estes dias!

Para terminar, como sabemos o nosso herói de hoje sofre de um problema cardíaco que exige transplantação. Não há uma única vida que valha mais do que qualquer outra, mas já que não se pode evitar todas as mortes, ao menos que das lágrimas se aproveite um bom coração e que ele continue a bater num novo corpo... pois certamente o nosso Salvador vai aprender a viver pelos dois!