sábado, 24 de fevereiro de 2018

Eu quero ser estudante profissional!

Por todo o mundo e no nosso país em especial, as crianças crescem com o sonho de se tornar num jogador profissional de futebol. A este fenómeno de gerações está a juntar-se progressivamente um outro que muita criança tem roubado à mesma rua que alimentou a fantasia original. Essa nova aspiração é ser gamer profissional!

Tal como os melhores desportistas são patrocinados por grandes marcas desportivas internacionais, também esta nova geração de craques do sofá vai sendo “vestida” pelas gigantes da eletrónica. A Logitech e a Razer, muito conhecidas pelos seus teclados e ratos, ou a Asus com a sua marca Republic of Gamers, são algumas das empresas que patrocinam os craques do polegar. Hoje em dia até já há clubes de futebol que têm a sua própria divisão de eSports (Schalke 04, PSG e até o nosso Sporting CP) competindo ao mais alto nível internacional.

Facilmente verificamos que tanto o mundo da bola como o mundo dos computadores e consolas de jogos movem milhares de milhões de euros. Basta que nos recordemos dos tempos em que éramos miúdos e levávamos para a escola em 2004 a versão futsal das Nike Total 90 douradas ou das Adidas F50 para ter o toque de bola do Beckham ou do Figo nos pés. Ou de ver os periféricos mais usados no gaming profissional na extinta revista BGamer e querer calçar as nossas mãos com uns iguais para desferir aquele headshot fatal 1ms mais rápido no Call of Duty.

Infelizmente estes sonhos de viver da bola e dos jogos só estão ao alcance de uma pequena minoria e quem está a ler este texto muito certamente se teve de fazer à vida e procurar outra fonte de rendimento!

Ainda ilusionado por estas recordações de menino me vem à mente um episódio em que um colega de escola me disse ter comprado as canetas como as que eu costumava utilizar para ver se assim melhorava as notas... Solto uma risada daquelas bem prolongadas como quem diz “ai, se fosse assim tão fácil...”. Contudo, refletindo bem, é precisamente esta a forma de pensar que edifica a robusta indústria do marketing. Reparem: as canetas que os bons alunos usam nas aulas e nos testes não são muito diferentes das chuteiras que o Ronaldo usa nos treinos e nos jogos! E se tanto no desporto que te faz suar como naquele que se joga no sofá se generalizou o uso de suplementos desportivos, também no estudo se podem usar suplementos para auxiliar a memória. Em qualquer destes três mundos o uso de substâncias ilegais existe, embora no mundo dos estudos apenas seja considerado doping o clássico copianço. Marcar um hat-trick, ganhar três partidas seguidas no PES ou sacar três vintes no teste de Biologia não é assim tão diferente...


Imaginem, por isso, um mundo em que a Stabilo, a Bic, a Ambar, a Oxford ou a Maped patrocinam os melhores alunos. Um mundo em que estas marcas fornecem as canetas e os cadernos, pagam os livros e até as propinas da faculdade. Imaginem um mundo em que também há revistas dedicadas ao estudo, nas quais os melhores alunos explicam as matérias, dão entrevistas, nas quais aquelas competições internacionais de Matemática, Física, línguas etc têm o devido destaque, em que haja aquela foto dos vencedores a levantarem o troféu tal como a seleção levantou a taça em França em 2016... Imaginem um mundo em que as marcas faturam ainda mais por estarem associadas aos grandes craques do estudo. Em que as empresas lhes pagam simplesmente para estudar um assunto qualquer e representar a sua empresa em competições nacionais e internacionais. Imaginem um mundo em que os ases do cérebro vivem disso mesmo, do estudo. E imaginem eles a ser PTs do estudo, a publicar vídeos no Youtube com os métodos de estudo mais eficazes. E depois imaginem eles a enriquecer vendendo a caneta daquela marca que magicamente vai elevar o vosso nível a patamares de excelência que doutra forma nunca alcançariam. Tudo isto com o mínimo esforço, o de tirar a nota da carteira.