Por todo o mundo e no nosso país
em especial, as crianças crescem com o sonho de se tornar num jogador
profissional de futebol. A este fenómeno de gerações está a juntar-se
progressivamente um outro que muita criança tem roubado à mesma rua que
alimentou a fantasia original. Essa nova aspiração é ser gamer profissional!

Tal como os melhores desportistas
são patrocinados por grandes marcas desportivas internacionais, também esta
nova geração de craques do sofá vai sendo “vestida” pelas gigantes da
eletrónica. A Logitech e a Razer, muito conhecidas pelos seus teclados e ratos,
ou a Asus com a sua marca Republic of Gamers, são algumas das empresas que
patrocinam os craques do polegar. Hoje em dia até já há clubes de futebol que
têm a sua própria divisão de
eSports
(Schalke 04, PSG e até o nosso Sporting CP) competindo ao mais alto nível
internacional.
Facilmente verificamos que tanto
o mundo da bola como o mundo dos computadores e consolas de jogos movem milhares
de milhões de euros. Basta que nos recordemos dos tempos em que éramos miúdos e
levávamos para a escola em 2004 a versão futsal das Nike Total 90 douradas ou das
Adidas F50 para ter o toque de bola do Beckham ou do Figo nos pés. Ou de ver os
periféricos mais usados no gaming
profissional na extinta revista BGamer e querer calçar as nossas mãos com uns
iguais para desferir aquele headshot
fatal 1ms mais rápido no Call of Duty.
Infelizmente estes sonhos de
viver da bola e dos jogos só estão ao alcance de uma pequena minoria e quem
está a ler este texto muito certamente se teve de fazer à vida e procurar outra
fonte de rendimento!

Ainda ilusionado por estas
recordações de menino me vem à mente um episódio em que um colega de escola me
disse ter comprado as canetas como as que eu costumava utilizar para ver se assim
melhorava as notas... Solto uma risada daquelas bem prolongadas como quem diz
“ai, se fosse assim tão fácil...”. Contudo, refletindo bem, é precisamente esta
a forma de pensar que edifica a robusta indústria do marketing. Reparem: as
canetas que os bons alunos usam nas aulas e nos testes não são muito diferentes
das chuteiras que o Ronaldo usa nos treinos e nos jogos! E se tanto no desporto
que te faz suar como naquele que se joga no sofá se generalizou o uso de
suplementos desportivos, também no estudo se podem usar suplementos para
auxiliar a memória. Em qualquer destes três mundos o uso de substâncias ilegais
existe, embora no mundo dos estudos apenas seja considerado doping o clássico
copianço. Marcar um hat-trick, ganhar três partidas seguidas no PES ou sacar
três vintes no teste de Biologia não é assim tão diferente...

Imaginem, por isso, um mundo em
que a Stabilo, a Bic, a Ambar, a Oxford ou a Maped patrocinam os melhores
alunos. Um mundo em que estas marcas fornecem as canetas e os cadernos, pagam
os livros e até as propinas da faculdade. Imaginem um mundo em que também há
revistas dedicadas ao estudo, nas quais os melhores alunos explicam as
matérias, dão entrevistas, nas quais aquelas competições internacionais de
Matemática, Física, línguas etc têm o devido destaque, em que haja aquela foto
dos vencedores a levantarem o troféu tal como a seleção levantou a taça em
França em 2016... Imaginem um mundo em que as marcas faturam ainda mais por
estarem associadas aos grandes craques do estudo. Em que as empresas lhes pagam
simplesmente para estudar um assunto qualquer e representar a sua empresa em
competições nacionais e internacionais. Imaginem um mundo em que os ases do
cérebro vivem disso mesmo, do estudo. E imaginem eles a ser PTs do estudo, a publicar
vídeos no Youtube com os métodos de estudo mais eficazes. E depois imaginem
eles a enriquecer vendendo a caneta daquela marca que magicamente vai elevar o vosso nível a
patamares de excelência que doutra forma nunca alcançariam. Tudo isto com o mínimo
esforço, o de tirar a nota da carteira.
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