“Não me obriguem a zangar-me com vocês logo no primeiro dia!”
Foi a recordação melancólica do primeiro raspanete coletivo com que foram presenteados duas dezenas de infantes naquele setembro de 1999 que me levaram a eternizar estas memórias. No entanto, não se pense os tempos de Primária se resumiram às punições e ao clima de medo! Que não se pense que o ensino old school (literalmente) era todo ele mau. Não, antes pelo contrário! É que cá em Penacova tivemos a oportunidade de nos desenvolvermos não só no campo intelectual, mas também a nível físico... e a céu aberto!
Fora do ambiente aprisionante a que os “Mega Agrupamentos” votaram as antigas escolas Primárias, os nossos 30 minutos do Intervalo Grande eram quase sempre passados num enorme retângulo de cimento com 2 balizas e linhas brancas a caiar o terreno de jogo. Muitos duelos históricos tiveram lugar nesse recinto. Os clássicos “terceira contra quarta” ou “avançados contra defesas” anunciados pelo imberbe cuja voz mais alto emergia do túnel formado pelas mãos juntas em concha à saída da boca. E as raparigas não eram excluídas! Ainda me recordo de algumas craques que deixavam muitos moços para trás, com os olhos pregados no chão à procura dos rins, como o Vítor Baptista um dia buscou o tal brinco (embora para eles, naquela altura, rins não passariam provavelmente dos bolos calóricos que tínhamos o prazer de comer religiosamente uma vez por semana, às quartas-feiras se não a memória não me atraiçoa).

Tivemos também a oportunidade de participar ativamente numa das grandes celebrações cujo passar dos anos tem vindo a matar, verdadeira e irónica metáfora, não fosse de “queimar o Entrudo” aquilo a que me refiro.
Além disso, numa altura em a tecnologia ainda não havia assumido total controlo do dia-a-dia, como um simbionte que se ia apoderando da outra espécie, tivemos a chance de aprender a manejar um computador de secretária e inclusive de construir um site na Internet. E não, não precisamos de ir a Lisboa para fazer isso!
Não há como esconde-lo. Muitos dos métodos de ensino da antiga Primária estão hoje ultrapassados. O mundo mudou, as pessoas mudaram. A realidade é já definitivamente tecnológica e não podemos ficar para trás. As crianças nascem agora com um tablet nas mãos tal como eu nasci com o rato do computador de secretária numa mão, mas ainda com o livro na outra...
Tudo tem a sua beleza, mas para mim nada mais belo há que a memória daquele parque de estacionamento onde o meu avô, o meu pai e eu aprendemos e brincámos...