“Não me obriguem a zangar-me com vocês logo no primeiro dia!”
Todos nós temos uma recordação do primeiro dia de escola. Esteja ela ainda viva como a sensação de novidade que uma criança traz para casa quando aprende pela primeira vez a dizer o alfabeto de trás para a frente ou já mais apagada como as páginas gastas de uma sebenta tantas vezes folheada, todos nós temos um evento que lembramos desse dia único.
“Não me obriguem a zangar-me com vocês logo no primeiro dia!”
Há anos esta frase me vem à cabeça. A sua Autora, infelizmente, já partiu. Tendo falecido andava eu ainda no 5.º ano, a Senhora Professora não poderá esclarecer as circunstâncias que A levaram a ameaçar a turma naquela manhã de setembro de 1999... mas com certeza que deve ter sido por algum frenesim coletivo, vulgo barulho, que, entretanto, se instalara. O que é certo é que todos ficamos em sentido! Todos ficamos a perceber, em escassos minutos, que a Senhora Professora Natália era uma mulher que impunha respeito... mas também muito medo!
A propósito desses 20 anos que já passaram, recordava com alguns dos presentes nesse dia, amigos para a vida, outros episódios que ajudaram a sedimentar o fóssil educativo que aqueles que passaram pela Escola Maria Máxima na viragem do século puderem ainda vivenciar. Era um ensino “à antiga”. Uma educação baseada na repressão verbal e física. Na tabuada dos 8, 8x7 ou era igual a 56 ou a um valente puxão de orelhas! Se fizéssemos muito barulho, o castigo seria escrever 100 vezes em casa “Não vou fazer mais barulho nas aulas”. E se viéssemos com as sapatilhas ou sapatos sujos do recreio, o que perigosamente sucedia em dias de chuva em que teimávamos em dar uns toques na bola, habilitávamo-nos a levar uma valente reprimenda caso o calçado não passasse na inspeção obrigatória antes do regresso à sala de aula!

Era este o poder da Saudosa Senhora Professora Natália!
Era este ensino o autêntico fóssil vivo numa sociedade que já começava a dar sinais de retirar autoridade e prestígio aos docentes.
Era esta forma de aprender a última folha dos modelos educativos que vigoraram durante séculos... a derradeira linha das lições que o meu avô e o meu pai tiveram, na mesma escola, sentados com os cadernos pousados nas mesmas carteiras que naquele dia me protegeram de um valente par de estalos.
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