Na manhã seguinte levantei-me e antes de tomar o pequeno-almoço, corri a cortina da janela do quarto e sentei-me na beira da cama simplesmente a contemplar aquela vista. A “tempestade” da véspera dera lugar a uma manhã soalheira de bonança para as “formigas” darem o seu passeio à beira-mar.
Vista do hotel na Marina de Badalona
Também eu fui “formiga” nessa manhã, mas antes fui aproveitar o ginásio do hotel, que estava bem equipado, para fazer um treininho (quem tem este vício, percebe que até em férias custa não treinar...). Banho tomado e sweater e casaco vestidos para fazer contrariar a brisa fresca costeira lá fui eu juntar-me ao carreiro de “formigas” que vislumbrei do alto do 13.º andar do meu quarto de hotel. Porém, cá em baixo, os seres minúsculos ou eram famílias que faziam caminhadas, pessoas a correr, ou simplesmente a fazer uma merenda matinal com o que haviam adquirido no supermercado Mercadona sito ao lado do hotel.
No Port de Badalona
Fui percorrendo de ponta a ponta a marginal. Na praia,
apesar de estar frio, vários grupos de jovens jogavam voleibol, outros faziam
musculação no setor de barras e até me deparei com campo especialmente dedicado
a um desporto que desconhecia, o Pickleball. É uma mistura de ténis, badminton
e ping-pong que tem vindo a crescer de popularidade nos últimos anos, vim eu a
descobrir quando pesquisei na Internet. Bem perto desse terreno de jogo, no
Pont del Petroli, encontrava-se uma das atrações daquela zona de Badalona, a
escultura de um macaco com traços de Charles Darwin segurando uma garrafa de
anis, símbolo da marca Anis del Mono. A escultura em bronze foi construída em
2012 para homenagear essa importante marca de anis de Badalona e, desde então,
tem permitido aos turistas tirar divertidas fotografias, como eu próprio não
deixei de fazer.
No Pont de Petroli
junto da emblemática escultura do macaco da Anis del Mono
Ainda galguei a restante marginal e alcançado o extremo oposto ao hotel apeteceu-me sentar numa rocha e tal como ela, ficar simplesmente a mirar a acalmia transmitida pelas águas do mar Mediterrânico.
Estive nesta introspeção uns bons minutos e quando a minha mente emergiu do fundo daquelas águas estava na altura de rumar finalmente a Barcelona propriamente dita. Dirigi-me novamente à estação de Pep Ventura e apanhei a linha 2 do Metro em direção à paragem Hospital Clinic, no bairro de Eixample, a escassos minutos a pé do hotel onde iria ficar nas duas noites seguintes. Antes de fazer o check-in, como já eram 15h, optei por parar num restaurante para almoçar (a horas de Nuestros Hermanos...). O melhor restaurante da zona, o Retorno, tinha fila para entrar, por isso optei pelo El Rincón de Angél.
E se o entrecot de ternera que comi merecia um pouco mais de tempero para se tornar inesquecível, a minha permanência neste restaurante teve o seu momento caricato. Ora então, poucos minutos depois de me sentar na esplanada, na mesa devidamente indicada pelo funcionário, que deveria ter a minha idade, fui abordado por um idoso que se aproximou pelas minhas costas, empunhando um pires de café com uma nota e moedas no seu interior. O senhor verbalizou umas palavras que eu mal percebi, num tom espanhol bastante carregado, que mais tarde compreendi ser catalão falado depressa. Da maneira que ele se apresentou, assim do nada, e esticando aquele pires de café na minha direção, eu automaticamente julguei que se tratasse de um pedinte que andasse a molestar os clientes da esplanada e logo lhe disse que ainda estava à espera e não queria nada. O senhor meio confuso lá me deixou e só quando ele se dirigiu para o interior do estabelecimento e o observei a dar indicações aos funcionários é que me se fez luz na minha cabeça! Aquele não era um pedinte, não. Aquele era o dono do restaurante. Aquele era o senhor Angél!
Como as aparências, as circunstâncias e os condicionamentos que trazemos doutras situações passadas nos podem iludir! E com tudo aquilo esqueci-me de pedir para o entrecot ser um pouquinho mais bem passado. A carne veio quase em sangue e olhem, com a fome que tinha, nem pedi para grelharem um pouco mais, foi mesmo assim. Mastigando e mastigando a textura pastosa da carne muito mal passada, tive mais do que tempo para me lembrar de um grande amigo meu que adora ir a um restaurante muito bom na Figueira da Foz, onde quem não come carne mal passada nem vale a pena entrar!
Findada a refeição fui para o hotel, fiz o check-in,
tomei um banho e adormeci, tal era o cansaço das últimas horas. Quando voltei a
mim, tinha uma notificação do email no telemóvel que me informava que o pub crawl que havia marcado para essa
noite tinha sido cancelado. Foi uma oportunidade perdida para conhecer outras
pessoas... Não fiquei a chorar e, então, aproveitei o tempo para varrer alguns
dos pontos turísticos de Barcelona. Abalei já perto das 18h e com o sol a
pôr-se fiz o trajeto de 25 minutos a pé até ao emblemático Passeig de Gràcia,
onde em 2006 fiquei hospedado com a minha família na primeira noite. E só lá
ficamos nessa noite, porque roubaram o cartão de crédito ao meu tio no hotel e
então achamos melhor trocar para outro local mais recomendável. Lembro-me
apenas que a entrada do hotel era numa das “esquinas” dos octógonos nos quais
os edifícios da cidade se encontram organizados. Com toda a certeza que esse
hotel já mudou de nome e gerência…
Num espaço de duas horas ainda consegui ver muita coisa. Comecei pela Casa Batlló e Casa Milà (La Pedrera).
Casa Milà (La Pedrera)
Depois segui pela Avenida Diagonal e observei a Casa
Comalat e Casa de les Punxes.
Casa de les Punxes
Finalmente ainda caminhei mais de meia hora para apreciar a beleza da Sagrada Família rasgando os céus já quase totalmente escurecidos.
Na Sagrada Família
Várias dezenas de pessoas encontravam-se nas imediações a fotografar o monumento e claro, a tirar selfies. E por falar em selfies, não pude deixar de reparar no tremendo esforço, empenho (e paciência…) com que um rapaz estava a fotografar a namorada. O casal ainda esteve naquilo uns bons minutos, pois de cada vez que ele lhe mostrava as fotos ela mandava-o tirar mais! E sim, a Sagrada família ainda está em construção!
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