Para o terceiro dia tinha planeado a incursão a Montjuïc.
Levantei-me e quando saí do hotel e estava preparado para caminhar quase 50min até ao topo da emblemática colina catalã, esbarrei de frente com uma multidão de corredores nas ruas. Era o dia da Marató Barcelona e eu não sabia... Eu não tenho nada contra correr, antes pelo contrário, mas o problema é que o percurso da corrida cortava precisamente o trajeto até Montjuïc. Então, a minha caminhada foi transformada num para-arranca para atravessar as ruas, sempre à cata de uma fresta de oportunidade para atravessar a estrada, rasgando o pelotão sem ser atropelado pelos peões a alta velocidade, apenas para alcançar o “check-point” seguinte, escassos metros adiante.
Marató Barcelona - 16 de março de 2025
Logo no início desta aventura acabei por descobrir um café português bem próximo do quarteirão do hotel onde estava hospedado, o Amália’s Portuguese Flavours. Tomei lá um café e no dia seguinte regressei para tomar o pequeno-almoço, onde aproveitei para descobrir um pouco mais da história de vida do dono, e que vou contar na última parte desta crónica.
Fui “obrigado” a fazer outra paragem no Mercat Del Llibre Dominical De Sant Antoni, um mercado de livros usados que acontece todos os domingos. Além de livros, também pus o olho nas coleções de cromos e de Mega Craques que me fizeram viajar à infância.
Mercat Del Llibre Dominical De Sant Antoni
Este mercado acabou por ser o ponto de viragem na minha “luta”, pois a partir daqui tornou-se bastante mais fácil fugir aos corredores e paulatinamente iniciei a escalada do Montjuïc.
A primeira paragem foi nos Jardins del Teatre Grec, onde a beleza da vegetação escondia a triste realidade de um jovem que dormia numa tenda abrigada da chuva que durante a semana havia caído sobre a cidade.
Depois tomei uma escadaria que me conduziu aos jardins da Fundação Joan Miró, a última paragem antes de alcançar o famoso Estádio Olímpico Lluís Companys. Aí entrei pela porta aberta ao público e “viajei” até ao ano de 2006. Nessa ocasião recordo-me de entrar pela mesma porta e caminhar pelo meio das bancadas. Era outro tempo... Hoje o FC Barcelona encontra-se temporariamente a utilizar o estádio enquanto o seu está a ser remodelado e, assim, as áreas acessíveis aos turistas são mais restritas.
No Estádio Olímpico Lluís Companys
Era quase meio dia quando lanchei uma sandes de atum comprada no bar do estádio antes de dar uma volta às imediações do Palau Sant Jordi, donde vislumbrei a imponente Torre Telefónica crescendo para os céus, outra das heranças dos Jogos Olímpicos de 1992. Chegou depois a hora de tomar a subida final rumo ao topo do Montjuïc, onde iria encontrar o famoso castelo. Esta subida final teve a particularidade de me fazer contornar a colina, sujeitando-me a uma curiosa alternância entre calor e frio que me foi obrigando a despir e vestir o casaco e a sweater que levava vestidos várias vezes antes de alcançar o cume.
No topo, acumulavam-se turistas que fotografavam o castelo, os canhões ou simplesmente a paisagem em seu torno. É que desde o alto de Montjuïc é possível observar Barcelona a 360º, desde o azul do Mar Mediterrânico, passando pela zona portuária até à densa urbe da cidade condal. E então se fizermos o caminho de terra batida que circunda as muralhas do castelo vamos poder absorver toda a imponência e grandiosidade desta paisagem em menos de meia hora.
Vista do porto de Barcelona a partir do topo do Montjuïc
Às 13h15 apanhei o autocarro 150 que me fez descer rapidamente até à Plaça d'Espanya, sita na base do Montjuïc, onde uma gigantesca multidão fazia fila para um festival de hambúrgueres que decorria até esse dia 16 de março na Plaça de l'Univers at Fira. Rapidamente desci para o interior da estação de Metro, onde apanhei a L1 para sair na Plaça de Catalunya. Aí almocei no restaurante Casa Candela, muito perto do ponto de encontro para a Free Walking Tour que iria fazer às 15h.
A caminho desse restaurante, mais uma vez dei de caras com a triste realidade de quem não tem tanta sorte quanto eu tenho. Eram vários os sem abrigo deitados em colchões, abeirados junto às lojas imponentes daquela zona histórica de Barcelona. Um deles, jacente junto à Desigual, chamou-me particularmente à atenção pela amputação transmetatársica no pé direito que ostentava. Enfim, coisas de Médicos Fisiatras...
As previsões meteorológicas indicavam que às 15h iria começar a chover e… assim foi! O percurso da Free Walking Tour foi feito sempre à procura de um lugar onde o grupo de 15 pessoas se pudesse abeirar, dado que nem todos traziam guarda-chuva. Eu era um desses desprevenidos, mas felizmente consegui atestar o quão impermeável era o meu casaco. A guia polaca que nos conduziu pelas ruas de Barcelona ministrou-nos uma autêntica aula de história, com factos tão interessantes que não cabem numa única crónica. Deixo-os para outra ocasião, talvez para enriquecer a boa conversa que vamos ter no dia em que tomarmos um café. Até lá liberto somente o facto mais comercial de todos: durante a tour a guia deteve-nos na Plaça de Sant Felip Neri, um recanto emblemático com uma igreja cravejada de balas da Guerra Civil espanhola e uma fonte, local onde foram gravados filmes de renome e o videoclip de uma música que marcou a minha infância, My Immortal dos Evanescence. Ainda me lembro de um colega de catequese que tinha esta canção como toque polifónico no seu Nokia. O telemóvel tocou e o Sr. Padre Pinho não gostou...
Na Plaça de Sant Felip Neri, cenário de filmes de Hollywood
A chuva intensificou-se na Plaça Reial, abreviando a última paragem da tour e precipitando a corrida de toda a gente, cada um para sue lado. Eu dirigi-me para o hotel para lanchar e descansar um pouco. Contudo, pelo caminho dei de caras com a Fábrica de Cerveja Moritz. E decidi entrar. A Moritz foi a primeira fábrica a produzir cerveja em escala industrial na Espanha e, em 2012, remodelaram o espaço da antiga fábrica, abrindo um grande bar-restaurante que vale a pena conhecer. Se se acharem perdidos na infinidade de cervejas à vossa escolha, façam como eu, optem pela prova de cervejas para absorver ao máximo o melhor de cada uma!
Prova de cervejas na Moritz
Para terminar o dia preenchido, como era dia de Atlético de Madrid vs Barcelona, tentei arranjar um local para jantar que desse o grande jogo na televisão. Mesmo sendo um domingo à noite, os principais sports bars estavam cheios, mas por sorte encontrei um sítio até bastante próximo do meu hotel que tinha lugar e televisor na esplanada. Foi assim que me instalei no Bar Restaurant Mani, rodeado de adolescentes comendo kebabs e bebendo cañas e coca-colas. O jogo até estava a correr mal para os catalães, com o Atlético a vencer 2-0 ao minuto 70. Mas depois tudo mudou. O Barcelona iniciou uma remontada épica e selou a vitória já em tempo de compensação. O desânimo sucumbiu à total loucura que se seguiu. As “bancadas” do restaurante saltaram para festejar a reviravolta que mantinha os blaugrana na frente da corrida pelo título espanhol!
Festejos dos adeptos blaugrana pela vitória por 2-4 contra o Atlético de Madrid, no Bar Restaurant Mani
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