No rescaldo da grande tragédia que vitimou a equipa de futebol brasileira Chapecoense, venho partilhar convosco um texto que escrevi em 2010, quando ainda andava no Secundário, no âmbito da disciplina de Filosofia. É um texto que faz sentido recordar perante tão inesperado evento.
Quis
saber quem sou,
O que
faço aqui.
Estes são os primeiros dois versos da
canção E depois Do Adeus de Paulo de Carvalho,
que ficou eternizada como uma das canções de Abril, e que mostram bem a luta do
Homem pelo conhecimento de si próprio. É
de facto incrível que o mesmo Homem que já descobriu inúmeros conhecimentos de
Física, de Química, de Biologia e Matemática e inclusive já foi à Lua, ainda
não tenha sido capaz de se descobrir a si mesmo!
Mas,
o que é que nos move? Como é que cá viemos parar? E o que é que nos resta
quando se cá sairmos? São estas as perguntas que têm vindo a atormentar o
Homem ao longo de todo a sua ainda curta passagem pela Terra. Se é verdade que só
a consciência de si, só a razão permite ao Homem questionar-se e questionar o
mundo em seu redor, é essa mesma consciência que o atormenta e amaldiçoa com o
constante assolar de terríveis interrogações e dúvidas para as quais não
consegue obter qualquer resposta convincente.
Tantas vezes eu me interrogo sobre o que
faço aqui e sobretudo sobre o que farei depois daqui sair. E quando o faço
sinto um serpenteante arrepio de suor frio que me faz contorcer e me inquieta
perante a finitude do alcance do meu saber. Com certeza não serei o único a ter
tal sensação e certamente serão ainda muitos mais os que como eu encontram na
crença religiosa um abrigo que por instantes nos acalma e reconforta com a
ideia apaziguadora da vida para além da morte! Sim, porque essa é uma das
maiores questões da humanidade e sobretudo um dos seus maiores medos e receios.
Porquê tanto esforço, tanta dedicação
aos estudos, ao trabalho, à esposa, ao marido, aos filhos se num momento tudo
pode mudar com um simples disparar de uma pistola, numa terrível vicissitude que
abala para sempre e de forma irremediável a nossa existência?
Há, pois, a meu ver, que considerar a
dicotomia corpo-alma neste jogo pela busca do nosso verdadeiro ser. Se queremos
ter a ambição de viver com sentido, com um propósito fundado em valores
inquestionáveis, temos que primeiro nos interrogar sobre a religião, se ela é
justificável e o porquê de a mesma existir. Para mim, crer em Deus é como ter
alguém que me guie, um mestre, um ideal inabalável, um Ser a quem posso confiar nas horas duras e pedir que me dê a força
de continuar a caminhar sobre este mundo mesmo sem possuir certeza alguma sobre
para onde estou a viajar.
O ser humano é fruto do acaso, é certo.
Uma outra combinação genética e eu não estaria a escrever este texto agora, mas
já que aqui estou porquê não aproveitar
esta oportunidade de ir mais além do que os que já cá estiveram, desbravando
caminho para os que hão-de vir?
A vida humana só tem sentido se tiver um
objectivo, algo que nos faça levantar da cama todas as manhãs com vontade de ir
perseguir e alcançar. Seja tirar o curso dos nossos sonhos, jogar numa equipa
de futebol de qualidade internacional, empurrar incessantemente uma pedra até
ao topo de um monte ou simplesmente ser feliz numa cabana junto à praia, o
propósito da vida humana é sempre inerente ao seu sentido. E isso é algo que
tem que se aceitar, qualquer que seja a visão sobre a existência humana.
Sempre achei que tinha capacidades reflexivas. Na altura que desenvolveu esta reflexão sobre o sentido da vida, certamente que o fez no abstrato, mas que pode ter como referência os mais diversos acontecimentos, até um tão trágico como o que aconteceu recentemente!!! São estes e outros acontecimentos similares, que nos fazem, cada vez mais, refletir sobre o sentido da vida.
ResponderEliminarCara professora, obrigado! Sim, na altura em que escrevi este texto não tinha nada de concreto em mente, apenas o somatório de eventos que tinha presenciado até então na minha curta experiência de vida. Agradeço mais uma vez o estímulo que me deu na altura com as críticas à avaliação deste texto!
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