quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Reflexão sobre a existência humana

No rescaldo da grande tragédia que vitimou a equipa de futebol brasileira Chapecoense, venho partilhar convosco um texto que escrevi em 2010, quando ainda andava no Secundário, no âmbito da disciplina de Filosofia. É um texto que faz sentido recordar perante tão inesperado evento.


Quis saber quem sou,
O que faço aqui.

     Estes são os primeiros dois versos da canção E depois Do Adeus de Paulo de Carvalho, que ficou eternizada como uma das canções de Abril, e que mostram bem a luta do Homem pelo conhecimento de si próprio. É de facto incrível que o mesmo Homem que já descobriu inúmeros conhecimentos de Física, de Química, de Biologia e Matemática e inclusive já foi à Lua, ainda não tenha sido capaz de se descobrir a si mesmo!
     Mas, o que é que nos move? Como é que cá viemos parar? E o que é que nos resta quando se cá sairmos? São estas as perguntas que têm vindo a atormentar o Homem ao longo de todo a sua ainda curta passagem pela Terra. Se é verdade que só a consciência de si, só a razão permite ao Homem questionar-se e questionar o mundo em seu redor, é essa mesma consciência que o atormenta e amaldiçoa com o constante assolar de terríveis interrogações e dúvidas para as quais não consegue obter qualquer resposta convincente.
     Tantas vezes eu me interrogo sobre o que faço aqui e sobretudo sobre o que farei depois daqui sair. E quando o faço sinto um serpenteante arrepio de suor frio que me faz contorcer e me inquieta perante a finitude do alcance do meu saber. Com certeza não serei o único a ter tal sensação e certamente serão ainda muitos mais os que como eu encontram na crença religiosa um abrigo que por instantes nos acalma e reconforta com a ideia apaziguadora da vida para além da morte! Sim, porque essa é uma das maiores questões da humanidade e sobretudo um dos seus maiores medos e receios. Porquê tanto esforço, tanta dedicação aos estudos, ao trabalho, à esposa, ao marido, aos filhos se num momento tudo pode mudar com um simples disparar de uma pistola, numa terrível vicissitude que abala para sempre e de forma irremediável a nossa existência?
     Há, pois, a meu ver, que considerar a dicotomia corpo-alma neste jogo pela busca do nosso verdadeiro ser. Se queremos ter a ambição de viver com sentido, com um propósito fundado em valores inquestionáveis, temos que primeiro nos interrogar sobre a religião, se ela é justificável e o porquê de a mesma existir. Para mim, crer em Deus é como ter alguém que me guie, um mestre, um ideal inabalável, um Ser a quem posso confiar nas horas duras e pedir que me dê a força de continuar a caminhar sobre este mundo mesmo sem possuir certeza alguma sobre para onde estou a viajar.
     O ser humano é fruto do acaso, é certo. Uma outra combinação genética e eu não estaria a escrever este texto agora, mas já que aqui estou porquê não aproveitar esta oportunidade de ir mais além do que os que já cá estiveram, desbravando caminho para os que hão-de vir?
     A vida humana só tem sentido se tiver um objectivo, algo que nos faça levantar da cama todas as manhãs com vontade de ir perseguir e alcançar. Seja tirar o curso dos nossos sonhos, jogar numa equipa de futebol de qualidade internacional, empurrar incessantemente uma pedra até ao topo de um monte ou simplesmente ser feliz numa cabana junto à praia, o propósito da vida humana é sempre inerente ao seu sentido. E isso é algo que tem que se aceitar, qualquer que seja a visão sobre a existência humana.

2 comentários:

  1. Sempre achei que tinha capacidades reflexivas. Na altura que desenvolveu esta reflexão sobre o sentido da vida, certamente que o fez no abstrato, mas que pode ter como referência os mais diversos acontecimentos, até um tão trágico como o que aconteceu recentemente!!! São estes e outros acontecimentos similares, que nos fazem, cada vez mais, refletir sobre o sentido da vida.

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    1. Cara professora, obrigado! Sim, na altura em que escrevi este texto não tinha nada de concreto em mente, apenas o somatório de eventos que tinha presenciado até então na minha curta experiência de vida. Agradeço mais uma vez o estímulo que me deu na altura com as críticas à avaliação deste texto!

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