Com a obra Memorial do Convento, José Saramago expandiu o significado da velha máxima popular “Por trás de um grande homem, há sempre grande mulher.”. As marcantes estórias relatadas em torno da História do Convento de Mafra tornaram anedoticamente redutor atribuir a construção do emblemático monumento apenas ao rei D. João V e ensinaram-nos que, por trás de um grande rei, tem de estar definitivamente um ainda maior povo!
Sucede que eu tenho um primo jornalista de que me orgulho bastante! Como foi destemido e encarou o jornalismo como a sua grande paixão, foi subindo com a força do trabalho as íngremes escadas do ofício até alcançar a notoriedade que lhe é reconhecida atualmente.
Naturalmente, grandes feitos como estes não se alcançam por acaso.... Por exemplo, no FC Porto existem profissionais que resolvem muitas das questões pessoais dos jogadores, fazendo com que os craques apenas tenham de se preocupar em treinar e jogar, tal como se constata nos diversos livros versados aos sucessos dos Dragões ao longo dos anos. É precisamente esta rede de suporte que costuma ficar esquecida na penumbra da História e que Saramago tão bem iluminou com o seu romance. No caso do meu primo jornalista, este precioso apoio é assegurado fundamentalmente pelos pais, meus tios.
Ora, a minha tia, professora aposentada, é danada! Uma autêntica mulher do Norte! É perfeccionista e, como tal, muito meticulosa com todos os aspetos da sua vida. Enquanto docente, procurou sempre dar o melhor exemplo aos seus alunos, muito para além das matérias que lhe estavam incumbidas de lecionar. Estas e outras preocupações condicionaram um estilo de vida que a levou a sofrer um AVC, colocando-a às portas da morte. Felizmente, e quase inexplicavelmente, recuperou e assim adiou o merecido encontro com o Criador. Reformou-se e passou a dedicar a sua vida ao outro filho, que padecia de uma doença grave desde nascença. Até à sua partida, foram décadas de uma luta que muito a desgastaram. Ainda hoje, nos raros momentos em que lhe é permitido sentar-se no sofá e desligar um pouco das mil-e-uma coisas que tem para fazer, a perda deste filho naturalmente ainda lhe faz nascer lágrimas no canto dos olhos. Só que a real fonte das suas inquietações não é essa. Ironicamente, até são estas que mais a afastam das marés de tristeza. Neste momento, a sua grande preocupação (e alegria) são os netinhos que o meu primo jornalista lhe deu.
E por vezes parece que o verbo “dar” é mesmo o mais adequado, pois, à semelhança de muitos outros avós, não raras são as ocasiões em que ela se transforma no “depósito” dos netos! Senão vejamos: é ela quem os leva aos treinos de futebol; é ela quem os leva à natação; é ela quem os leva ao Inglês; é ela quem fica com eles nas noites em que os pais querem ter tempo para si próprios como todos os casais necessitam... E ela faz tudo isto no meio da babel que constitui a enorme cidade de Lisboa!
Por isso, às vezes interrogo-me: como é que o meu primo jornalista vai conseguir continuar a ensinar o mundo aos meus priminhos quando os pais lhe faltarem?
Infelizmente, a frágil saúde da sua mãe, minha avó, também não ajuda nada! Mas ainda que morando a mais de 200Km, a distância nunca foi um impedimento para, por exemplo, levar a minha avó às consultas de que necessita.
Como já devem ter percebido, existe um forte motivo para estar a pessoalizar este texto no grande ser humano que é a minha tia. Não é que o talentoso e multifacetado do meu tio não desempenhe um marcante papel na educação dos meus priminhos. Não, antes pelo contrário! A razão de dedicar esta crónica à minha tia é que, por estes dias, ela está a atravessar um período conturbado que coincide com a bênção de completar mais um aniversário.
Tia, para além dos óbvios Parabéns quero principalmente dirigir-te um sentido Muito Obrigado por tudo o que fazes por nós! Estou certo, tia, de que, quando começares a vislumbrar os ainda ténues raios de luz que rasgam as nuvens negras que se condensaram na tua existência, irás estar a olhar-te ao espelho e a perceber o sol resplandecente que és nas nossas vidas!
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