domingo, 16 de setembro de 2018

Sporting e PSD: a "riqueza" que os (des)une!

Sporting e PSD. “O clube e o partido dos ricos”. É assim que estas instituições têm vindo a ser rotuladas ao longo dos seus largos anos de existência. Mas será que efetivamente essas etiquetas lhes colam assim tão bem?

Na vida nem tudo é preto ou branco, mas existe indesmentivelmente algo a unir sportinguistas e social-democratas. E não, não são as tais chorudas contas bancárias dos seus simpatizantes. E também não é a cor laranja, tonalidade imediatamente associada ao partido político de centro-direita e que o clube de Alvalade exibiu no equipamento alternativo da horrível temporada de 2012-2013. O que tem vindo a unir estas instituições é sim a marcada instabilidade interna! 

Começando pelo Sporting, com as eleições do passado dia 8 de Setembro, os Leões elegeram o seu 43.º presidente, Frederico Varandas. Este acontecimento foi o culminar dos meses mais vergonhosos da história do clube, cujo episódio mais triste foi seguramente o das agressões à equipa de futebol sénior no dia 15 maio em Alcochete às mãos de 50 elementos alegadamente afectos ao próprio clube!

Por seu turno, o PSD elegeu o 18.º presidente desde o 25 de abril de 1974 no início do ano, Rui Rio, que sucedeu a um Pedro Passos Coelho que nunca recuperou verdadeiramente da mágoa do afastamento do governo pela “Geringonça de Esquerda”.

Depois de um jejum de 18 anos sem campeonatos nacionais de futebol sénior conquistados, os Leões tiveram na dobragem do século também um virar de esperança com 2 títulos em 3 anos, mas foi sol de pouca dura. E a partir da demissão de José Eduardo Bettencourt, em 2011, o Sporting entra numa roda viva de eleições e demissões presidenciais. Primeiro Godinho Lopes, depois Bruno de Carvalho. E pelo meio, uma resma infindável de treinadores e jogadores contratados, tendo o Sporting inclusivé a espaços jogado às urtigas a aposta na Academia.

Já os Laranjas passam por um período algo similar ao leonino, nos anos que sucederam à partida de Durão Barroso para a Comissão Europeia e à demissão de Pedro Santana Lopes após a derrota para José Sócrates nas Eleições Legislativas de 2005. Seguem-se 3 líderes até que o PSD encarreira durante uns tempos com Pedro Passos Coelho. Primeiro é Marques Mendes, depois é Luís Filipe Menezes e por fim, Manuela Ferreira Leite.

Ora, ainda mais interessante é verificar que os sinuosos galhos e ramos desta árvore entroncam bem mais atrás na linha temporal, no elemento central desta história toda: o fim de uma grande liderança! João Rocha no SCP. Cavaco Silva no PSD. Cada um destes senhores marcou uma era de grande prosperidade na respetiva instituição. Em 13 anos de Sporting, o setubalense conquistou 3 campeonatos nacionais de futebol e nas modalidades, então, deixou um legado impressionante com vários títulos europeus no palmarés. Já o economista de Boliqueime governou o País durante uma década (1985 a 1995), alcançando duas maiorias absolutas nas três eleições que disputou.

De facto, a entropia gerada pela partida do grande líder é por vezes demasiada... E a sabedoria popular pode ajudar a perceber melhor as razões para a poeira tardar em assentar...

Em casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão. Este parece ser o problema do Sporting. Se o Sporting tem ganho aquele campeonato em 2006-2007 com Paulo Bento ou o de 2015-2016 com Jorge Jesus, quem sabe onde o clube estaria agora? Será que as nuvens de instabilidade ainda tapariam o sol em Alvalade?

Dois galos para um só poleiro. Bem, na verdade não são apenas dois, são vários, talvez um galinheiro inteiro repleto de cristas, umas ansiosas por dar o salto, outras frustradas por já o terem falhado. Este parece ser o problema do PSD. Basta ver os programas de comentário político para o perceber. O permanente negativismo em torno dos sucessivos líderes do próprio partido tem vindo a marcar uma profunda diferença para com a concorrência e é aí que os sociais-democratas começam a perder eleições.

Pelos vistos, parece que a tal riqueza monetária não é o maior factor de ligação entre SCP e PSD. É, sim, ironicamente a fraqueza dos elos internos que mais os aproxima, condicionando um notório clima de guerrilha endógena semanalmente noticiado nos órgãos de comunicação social.

Rui Rio já foi eleito há 8 meses. Frederico Varandas foi eleito apenas há 8 dias. Se no caso do político já percebemos que a instabilidade continua, no que concerne ao médico que vai tentar curar o “mal de Alvalade” só os próximos tempos dirão o que lhe espera.


PS: Um agradecimento muito especial aos meus colegas Filipa e Castilho pela profícua troca de ideias que culminou na redação deste texto.

Sem comentários:

Enviar um comentário