sábado, 10 de novembro de 2018

De D. João II a JFK: o legado que nunca iremos ver

Os madeireiros sabem bem que os pinheiros que hoje plantam, só os filhos irão cortar. Já não é para mim! como diz a minha avó num misto de revolta, por não poder colher mais os frutos da árdua tarefa, mas igualmente de dever cumprido, por nos deixar tão boa ou até melhor herança do que aquela que recebeu de seus pais.

À escala mundial, diversos exemplos há de madeireiros que nunca vieram a cortar os pinheiros que um dia semearam.

Quando o Príncipe Perfeito, D. João II, impulsionou Portugal para o período mais próspero da sua existência, lançando a Nação Valente à conquista de mares nunca dantes navegadose terras nunca outrora galgadas, acalentava decerto a esperança de um dia vir a receber a boa nova da descoberta do Caminho Marítimo para a Índia. Ora sucede que a perenidade da vida o acometeu em Alvor, cedo demais para assistir a tamanho feito da armada de Vasco da Gama e, como tal, foi o sucessor, D. Manuel I, a regozijar com a valerosa façanha de 1948.

Bem mais recentemente, nos anos 60 do século XX, as vicissitudes da vida também precipitaram o fim de uma das mais influentes personalidades da História dos EUA e Mundial. O Presidente John F. Kennedy via, assim, fuzilada a ambição de fazer chegar o Homem à Lua até final dessa malograda década. Embora de forma bem mais violenta que o natural perecimento do monarca lusitano, a verdade é que também JFK não pôde testemunhar o tão aguardado feito, tendo sido Nixon a celebrá-lo corria o verão de 1969, o tal que Bryan Adams imortalizado na canção que todos conhecemos.

Com estes dois exemplos, muito distantes entre si na inexorável linha do tempo, podemos constatar que grandes personalidades só vieram a receber a recompensa do seu trabalho já depois da partida terrena. Este facto é facilmente verificável se, na azáfama do dia-a-dia, dispusermos de uns breves minutos para desviar o nosso olhar para os nomes de escritores, políticos, médicos, artistas plásticos, entre outros, eternizados nos nomes das ruas por onde aceleradamente transitamos. Para muitos, esta terá sido injustamente a única homenagem que puderam “ver”. Talvez pela ingratidão de apenas poder “ver” esta homenagem post mortem, um portento do mundo do desporto, como é o nosso Cristiano Ronaldo, já afirmou que Se querem fazer homenagens, façam enquanto [as pessoas] estão vivas. E às vezes, a pressa parece ter sido tanta, que certos bustos tiveram de ser mais tarde retocados...

Ironias à parte, a verdade é que dar nome a uma rua acaba por ser também uma forma de marcar para a posteridade a nossa presença neste pedaço de terra. Como bem sabemos, a chave para a vida eterna tem sido procurada desde há milhares de anos, embora ainda ninguém tenha encontrado o tal Santo Graal, do qual se conta um dia ter recebido o sangue derramado por Jesus Cristo na Cruz e ainda antes ter sido alvo das demandas do Rei Artur.

Mas será que o elixir da juventude eterna existe mesmo? Ou será que esse Santo Graal na verdade não é um minério, um livro ou nem sequer um cálice, mas antes um objeto de realidade metafísica...?

A este propósito, um dia conheci uma Professora que me ensinou que a fonte da juventude eterna não é nenhum cogumelo publicitado agressivamente na televisão... é antes algo bem mais precioso: é as emoções que provocamos, os comportamentos que mudamos e as lições que ensinamos! Seja num gesto de bondade perante um desconhecido, seja numa aula da Faculdade, seja à mesa ao almoço com os nossos filhos... E bem me recordo de um outro sábio me ter segredado que a educação que enraizamos nos nossos filhos é a nossa maior obra...

Seja como for, tanto na vida vivida como na vida contemplada, desde o mais titulado dos reis à mais desconhecida das avós, grande reconhecimento só é de facto alcançado com o humilde e desinteressado altruísmo de quem sabe estar a plantar videiras cujo vinho nunca irá provar. E este sim, é o verdadeiro néctar eterno e imaterial da nossa Humanidade!

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