Diego Pablo Simeone. Jogador de sucesso. Treinador de sucesso. Duro no campo, carismático no banco. É o único treinador cujo nome tenho estampado numa camisola de futebol. É o homem que pegou no Atlético de Madrid a meio da temporada 2011/2012 e o revitalizou, guiando os “Colchoneros” a 2 finais da Liga dos Campeões, a 2 vitórias na Liga Europa e a uma inesperada conquista na Liga Espanhola. Sob a batuta de “El Cholo” Simeone, o segundo maior clube da capital espanhola voltou a fazer-se ouvir bem alto no panorama do futebol mundial.
Vozes, muitas vozes pelas ruas, rádios e televisores é o que mais se tem ouvido em Portugal nos últimos meses, rugindo dos megafones empunhados nos protestos dos mais variados setores profissionais. Professores, enfermeiros, taxistas, condutores de matérias perigosas... Quase todos estes protestos são manifestações sindicais, o que não só demonstra a força aglutinadora deste tipo de agremiações como sinaliza bem o final de ciclo legislativo. Os líderes sindicais acreditam que o período pré-eleitoral consubstancia o cenário ideal para o sucesso das suas reivindicações.

Ora, eu não creio que Simeone tivesse este êxito em clubes “novos ricos” como Chelsea, Paris-Saint Germain ou Manchester City. E nem acredito que os médicos fossem tão bem-sucedidos como os Enfermeiros foram se convocassem uma greve geral tão prolongada como foi a famosa Greve Cirúrgica que paralisou blocos operatórios por este país fora.
Porquê? Porque historicamente os médicos foram um grupo bastante favorecido no seio da sociedade portuguesa. Se atualmente ainda assim é, é muito discutível... No entanto, esta cultura dinossáurica de barriga cheia teima em desunir muitos médicos nas questões de fundo do seu setor. “Desde que não me chateiem e eu continue a ganhar o meu, tudo bem”, é este o pensamento de alguns colegas meus. Como tal, juntar os médicos num megaprotesto como aquele conduzido pelos Enfermeiros parece-me, na atualidade, surreal!
Difícil de imaginar também é Diego Simeone noutro clube que não o Atlético. Milan, Inter, Arsenal... Se é indesmentível que são clubes que têm andado arredados das grandes conquistas, também indiscutível é que são instituições historicamente ricas e tituladas... Falta-lhes aquela sede... Assim de repente, só o imagino mesmo ao comando do... Nápoles. Sim, o Nápoles. Os underdogs do Sul de Itália que o outro Diego, Maradona, astro maior do futebol argentino e mundial, um dia levou a roubar a glória aos grandes do Norte transalpino. Tal como o Atlético de Madrid, no início do século, os napolitanos desceram igualmente de divisão afundados em dívidas, mas renasceram e, na última década, até têm sido os que mais têm mordido os calcanhares à super Juventus. No entanto, ao contrário das grandes cidades do Norte italiano, Nápoles não é exatamente uma cidade postal e a pobreza a que está votada tem feito do futebol a grande sublimação da população. Portanto, parece-me que aqui estão reunidas as condições para Simeone fazer aquilo que melhor sabe fazer.
Certamente que este não é apenas um texto sobre o desporto-rei. Não. Esta é uma reflexão em tempo de eleições. Esta é uma crónica sobre os audazes que juntam multidões. Esta é uma crónica sobre os afortunados que semeiam ódios e paixões. Desde Martin Luther King a Nigel Farage, desde a razão à ilusão, desde os de sempre aos de nunca, não restem dúvidas: para alterar o panorama político, para agitar as águas congeladas, é premente encontrar o grande líder que derreta o marasmo e o esprema no suco que mate a sede de vitória!
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