Numa altura em que se vai realizar a nova Prova Nacional de Seriação (PNS), muitas são as memórias que me vêm à cabeça. Recordo a minha altura. Recordo que no verão de 2017, na preparação para o infame Harrison, o exame final que permitia ao recém-médico candidatar-se a uma vaga de especialidade em Portugal, descobri a obra prima que mudou para sempre o panorama do culturismo a nível mundial. Pumping Iron. O documentário de 1977 que lançou Arnold Schwarzenegger para a ribalta e que tornou o fitness mainstream. E a verdade é que descobri que a preparação para uma prova de culturismo apresenta terríveis e interessantes similitudes com as exigências impostas pelo Harrison.
Quaisquer que sejam os métodos de estudo, todos acabam por se encaixar em duas grandes fases: o bulk e o cut.
Sim, tal como numa prova de culturismo, existe uma primeira fase em que se acumula conhecimento. Começando pela exploração do texto, esta fase compreende perceber o que se tem de estudar, o sublinhar, o fazer resumos etc. O número de voltas à matéria que isto pode durar é altamente variável. No meu caso foram 2 a 3 voltas. A primeira foi no acompanhamento das aulas da Academia da Especialidade, uma das instituições que prepara os recém-médicos para a prova. Os culturistas também demoram muito tempo (anos!) a construir uma massa muscular sólida, mas inevitavelmente tapada com uma quantidade variável de massa gorda. Quando pretendem entrar na disputa de uma competição chega o dia em que o foco tem de virar do crescimento para a definição.
Depois de erguido o edifício do conhecimento, depois de preparado todo o material de estudo, eis que chega a segunda fase do Harrison. É tempo de acelerar o estudo, é chegada a hora de aumentar o número de páginas voltadas por dia, o número de capítulos lidos por semana... Agora o importante é aumentar o número de repetições, séries e intensidade dos treinos para secar glóbulos de gordura e assim alcançar a máxima separação muscular e a mais perfeita das simetrias. Agora o importante é passar os olhos o maior número possível de vezes pela matéria para que no dia do exame, quando aquela frase surgir, nós a reconhecermos como verdadeira ou falsa.

Seja no culturismo, seja no Harrison.
Nem todos aguentam a pressão. Há quem sucumba à loucura. Há quem tenha de recorrer a fármacos para manter o ritmo, há quem tenha de recorrer a medicamentos para se manter são!
Isto não é para todos. Não é para quem morre afogado no próprio choro, é para quem consegue enfrentar a forte corrente que quase faz virar o navio!
O Harrison foi das experiências mais marcantes da minha vida. Desgastante. Excitante. Não recordo outro período da minha vida adulta em que tenha estado tão focado num só e único objetivo. Nada mais interessava. Era adormecer com a classificação que ia ter na mente. Era acordar, comer e pôr-me novamente a construir essa nota. Dia após dia. Um ano completo de dedicação. 4 meses de estudo intensivo. 4 meses de puro egoísmo. Estudar sozinho. Estudar em grupo. Desafiar os colegas de estudo para elevar o nível. Ser desafiado. Dizer "não" aos outros amigos, aos cafés, às jantaradas...
Querer não basta, é necessário fazer! Por isso, boa sorte a todos os que se dedicam de corpo e alma aos desafios da vida e, em particular, aos que agora vão enfrentar a nova PNS!
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