sexta-feira, 20 de novembro de 2020

Crónicas em Tempos de Pandemia - A amizade em três lições

Passava poucos minutos desde que o relógio havia assinalado as nove da noite quando o telefone tocou. O ecrã anunciava a chamada do meu grande amigo Bruno Castilho. O que será que ele quer?...

Toda a gente sabe que a Covid está de novo a apertar! E com o rebentar da segunda onda desta pandemia, por este mundo e país fora, centenas
e centenas de médicos estão de novo ser recrutados para o combate! E como os noticiários têm vindo a anunciar, internos de especialidades que pouco ou nada têm a ver com o tratamento urgente a estes doentes, foram também chamados para auxiliar nos Cuidados Intensivos...

 

O parâmetro mais importante do ventilador é a capacidade vital. Lição número um. Esse volume é fornecido ao doente de forma constante e no final da expiração o ventilador injeta na árvore pulmonar um volume extra para impedir que as vias respiratórias colapsem. Ora aqui está o motivo da chamada. O meu grande amigo Bruno Castilho tinha sabido das novidades e estava a ligar para me dar conselhos para enfrentar a missão Cuidados Intensivos Covid!

 

Durante o curso de Medicina e no estudo para o exame de acesso à especialidade, obrigatoriamente tive de me debruçar sobre temáticas específicas das doenças cardíacas e respiratórias. No entanto, com o passar dos anos, os conceitos desvanecem e existe sempre um enorme desnível entre o estudar e o praticar. Como tal, esta ajuda vinda de um jovem e promissor interno de Cardiologia afigurava-se preciosa!

 

Para que é que serve a noradrenalina? Para fazer a vasoconstrição e assim aumentar a tensão arterial. E por que é que isso é tão importante na maioria dos doentes internados em Cuidados Intensivos? Porque estão em choque, o que significa que têm as tensões muito baixas. Assim o coração tem de fazer um esforço brutal para manter o débito cardíaco. Precisamente, a noradrenalina vai ajudar muito o coração nessa missão! Foi a lição número dois.

 

Como podem imaginar, bem mais técnicos, detalhados e complexos foram os contornos da nossa conversa... O que verdadeiramente interessa, isso sim, é destacar este enorme gesto de amizade! Do meu grande amigo Bruno Castilho e do meu outro grande amigo que o informou. A nobre partilha de conhecimentos entre colegas sempre foi fundamental para uma boa Medicina praticar. E enfrentar o desconhecido invariavelmente acarreta uma boa dose de ansiedade. Portanto, estarmos “próximos” num tempo em que a pandemia nos obriga a afastar é ainda mais fulcral. Devemos estar separados sim, mas nunca “distantes”! Porque “próximos” somos todos muito mais fortes! Agora e sempre! E esta é a lição número três.

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