Há uns anos atrás, estive em Zurique, uma das cidades mais caras do mundo. Naquele importante centro financeiro, além de passear pela Lindenhofplatz, de visitar o Museu da FIFA e de me deleitar com um delicioso bolo de chocolate na fábrica da Lindt, fiquei verdadeiramente abismado com o manancial de viaturas que cruzavam as suas movimentadas ruas.
Não é que me considere um apaixonado pelos veículos de quatro rodas, mas nesse dia fiquei estupefacto com tantos e tantos bólides que só estava acostumado a ver pela televisão, nos filmes da saga Fast and Furious, e quanto muito, numa ou noutra ocasião em que o emigra mais abonado decide vir exibir as suas conquistas em Agosto para a terra que o viu nascer.
Um dos monstros que mais me chamou à atenção foi o clássico Ferrari vermelho, figura incontornável da minha infância, imortalizado pelas vitórias de Michael Schumacher no Mundial de Fórmula 1. A recente etapa da Fórmula 1 em Portimão fez-me lembrar esses momentos de glória da Ferrari, trazendo consigo a nostalgia de uma infância feliz, mas também uma reflexão inquietante...
Recordei aqueles momentos da vida em que me senti no cume da montanha, habitualmente seguidos a um “muito bom” tirado num teste na escola ou uma defesa de nota bem-sucedida numa prova oral na faculdade. São feitos como esses que nos dão força para seguir o nosso caminho sem olhar para trás... mas nada dura para sempre!
É nessas alturas em que damos por nós a pensar: “mas o que é que se passa?” “O que é que mudou?” “Porque é que agora já não me dá aquela pica?”
Pois é. A verdade é que por mais conquistas que tenhas alcançado, se continuares a viver delas, se permaneceres a viver nelas, vai chegar o dia em que a glória passada se transformará na apatia do teu presente! E a dúvida instala-se: “será que foi tudo fruto de um acaso?”. “Serei eu mesmo assim tão bom?”
Pois é, pois é. Sem gasolina, até o mais potente dos Ferraris é facilmente ultrapassado até pelo trator do velho que nunca saiu da terra.
Pois é, pois é. Sem motivação, os circuitos do teu cérebro não vão carburar. A engrenagem do teu círculo de Papez deixa de funcionar e com o tempo vai enferrujar na humidade da glória recordada numa manhã de orvalho.
A glória só é boa enquanto o espumante explode da garrafa e apenas serve para nunca esquecermos o quão bom já fomos. É que enquanto o espumante ainda jorra, a verdadeira lenda já está a pensar: “afinal aonde quero eu ainda chegar?”
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