sábado, 7 de dezembro de 2024

13 anos e 2 funerais depois

13 anos distam o ano do funeral do meu saudoso primo André do ano do funeral da minha querida avó materna que acaba de partir.

 

Abril de 2011. Dezembro de 2024.

 

O lugar?

A mesma aldeia plantada nas encostas serpenteantes na Serra de Aire e Candeeiros.

 

Cheguei cedo, ainda havia uma hora de espera até ao início da missa fúnebre. Como tal, decidi dar uma volta e admirar a beleza da paisagem verdejante que contrastava com o cinzento dos céus. Apoiado num pequeno muro, mirei os caminhos que percorri nesse dia de 2011 enquanto também aguardava pela hora do funeral. Como tinha ainda tempo, decidi repetir e aproveitar para fazer uma reflexão.

 

O conteúdo desta reflexão foi surgindo ao longo do percurso. O título, esse, vi-o subitamente brotar do meu subconsciente enquanto descia a colina íngreme. Mas à medida que o caminho se foi inclinando, a risada que dei à conta desse título hollywoodesco foi dando lugar à tal reflexão... Em 13 anos tantas coisas mudaram... e outras tantas permanecem teimosamente iguais.

 

Há 13 anos eu ainda ia fazer 18 anos, agora já estou com 31.

 

Há 13 anos o Sporting estava há 9 sem ser campeão nacional, agora acaba de ganhar o segundo campeonato em 4 anos.

 

Há 13 anos eu ainda nem tinha dado o meu primeiro beijo, agora já tive namoros que nunca esquecerei.

 

Há 13 anos Passos Coelho ainda ia ser eleito Primeiro Ministro, agora muitos o querem a Presidente da República.

 

Há 13 anos eu pensava que ia ser treinador ou olheiro de futebol, agora até já pouca bola vejo.

 

Há 13 anos eu pensava que os médicos só trabalhavam, agora vejo que não tem de ser assim.

 

Há 13 anos eu só sabia estudar, agora eu quero mesmo é disfrutar.

 

Há 13 anos não sobravam vagas de acesso às especialidades médicas, agora os meus colegas começaram a abrir os olhos.

 

Há 13 anos eu não quis ir à Viagem de Finalistas, agora ia a duas.

 

Há 13 anos Donald Trump era para mim um multimilionário que tinha feito uma participação muito engraçada na WWE, agora vai assumir pela segunda vez a Presidência dos EUA.

 

Há 13 anos eu só tinha vivido na terra onde cresci, agora até meses pelo estrangeiro já andei.

 

Há 13 anos o mundo chorava a catástrofe de Fukushima, agora tivemos aqui perto a fatalidade da tempestade DANA em Valência.

 

Há 13 anos eu ainda não tinha conhecido os meus abdominais, agora já os vejo.

 

Há 13 anos o José Rodrigues dos Santos publicaria ainda o seu nono romance, agora acaba de lançar o vigésimo sexto.

 

Há 13 anos eu não bebia mais do que dois finos, agora não me apetece voltar a fazer o mesmo.

 

Há 13 anos Elizabeth II ainda era a Rainha de Inglaterra, agora descobrimos que nem sequer ela é eterna.

 

Há 13 anos eu ainda não tinha andado de avião, agora já perdi a conta aos voos que apanhei.

 

Há 13 anos André Villas-Boas era o novo Mourinho, agora foi o Rúben Amorim que finalmente apanhou o tal voo para salvar o Manchester United.

 

Há 13 anos eu tinha uma família, agora sei que tenho outra.

 

Há 13 anos começavam a surgir os novos telemóveis com ecrã tátil, agora os smartphones dominam a palma das nossas vidas.

 

Há 13 anos eu tinha amigos de escola, agora continuo a ter as fortes amizades que persistiram.

 

Há 13 anos o Facebook banalizava-se no nosso dia a dia, agora há tanta rede social que já nem sabemos bem o que ser social é.

 

Há 13 anos eu tinha sonhos, agora continuo a ter...

 

Os últimos passos desta reflexão foram-me guiando de volta à capela onde dentro de breves momentos iria principiar a cerimónia. À medida que me ia aproximando do local uma certeza se foi formando.

 

Ao longo destes 13 anos já fui e já conheci muita coisa. Fui o Gonçalo, o filho da professora Amazilde, o neto do Ti Alberto Chupinhas, o Engenheiro, o Dr. Engenheiro, o Doutor... Enfim, muito se foi alterando ao longo deste tempo todo, mas 13 anos e 2 funerais depois há uma coisa que não mudou. Eu. Mais calejado, mais refinado.


13 anos e 2 funerais depois, eu continuo a ser eu mesmo: o Gonçalo, de Penacova!

2 comentários:

  1. Em primeiro lugar, Gonçalo, lamento a tua perda.
    Só estou a comentar para te dizer que a viagem de finalistas não é assim tão fixe! É extremamente cara para o que vais fazer (os hotéis são péssimos, assim como a comida neles) e, na verdade, se organizares uma viagem com uns amigos fixes (até pode ser com o mesmo propósito!) vais-te divertir muito mais e, ao mesmo tempo, conhecer pessoas novas também! Por isso... diria que ainda estás a tempo de ir a duas... ou mais... "viagens de finalistas" ;)

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    1. Obrigado pelas tuas palavras, Joana! Em relação à viagem de finalistas, ao longo destes últimos anos já fiz "mini-viagens de finalistas" que permitiram compreender aquilo que tão bem explanas no teu comentário. Obrigado por leres!

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