Agosto de 2024. Estádio Municipal de Aveiro. O ecrã gigante marcava 3-0 à passagem do minuto 24 quando o estreante Geovany Quenda fazia o terceiro golo dos campeões nacionais ante um FC Porto apático. Inacreditável! Ninguém no estádio conseguia acreditar no que estava a acontecer. Só que o sonho de uma vitória gorda ante um dos maiores rivais começou logo a desmoronar-se quando à minha frente, Zeno Debast, reforço belga caro de verão, comete um erro que entrega de bandeja o 3-1 a Galeno. E o resto é história. Os portistas galvanizados conseguiram empatar o jogo e depois no prolongamento, num lance fortuito, que não deixou nada bem na fotografia a nova aquisição para a baliza, Vladan Kovačević, Iván Jaime completou uma reviravolta épica que deu a Supertaça Cândido de Oliveira ao FC Porto. Do céu do 3-0 ao Inferno do 3-4 em pouco mais de 1 hora... Foi assim que principiou a temporada 2024-2025 para o Sporting campeão nacional.
A minha visão da partida da Supertaça, ainda com o marcador a zeros. Foi aqui perto que vi o FC Porto reduzir para 3-1.
Tal como no ano anterior, quando a derrota nos descontos ante o Benfica na Luz pareceu ter acordado a equipa, também esta valente hecatombe parece ter despertado os nossos rapazes para a necessidade de enfrentar cada partida com a mesma garra dos 0 aos 90 minutos. É que nos 18 jogos seguintes, o Sporting ganhou todos, exceto o empate a uma bola no terreno do PSV para a Fase de Liga da Champions League. Neste período foram 59 golos marcados e apenas 9 sofridos, com destaque supremo para a goleada ao Manchester City em Alvalade no dia 5 de Novembro, na qual Viktor Gyökeres fez um hat-trick que o catapultou definitivamente para as manchetes do futebol europeu. Para o campeonato foram 11 vitórias em 11 jogos! O Sporting era um autêntico rolo compressor a fazer lembrar os inícios avassaladores de época do Benfica de Jorge Jesus e do FC Porto de Mourinho ou Villas Boas. Os Sportinguistas acordavam e adormeciam nas nuvens, nenhum adepto leonino tinha vivido um período tão áureo como este, e a euforia desmedida era tal que na brincadeira até já se falava em sermos campeões já em março e quem sabe irmos à final da Champions.
Erik ten Hag já não é treinador do Manchester United. No final de outubro, escassos dias antes da histórica goleada aos citizens, rebentava a notícia do despedimento do treinador do rival de Manchester. Confesso que de início me foi indiferente. Afinal desde a saída de Sir Alex Ferguson que o Manchester tem sido o cemitério de treinadores que o meu Sporting foi ao longo das últimas décadas. Contudo, dias depois os alarmes soaram quando vários órgãos de comunicação social começaram a perfilar o nosso treinador, Rúben Amorim, como o mais provável sucessor.
O quê?! Rúben Amorim sair a meio da época?! Agora que o Sporting finalmente está forte como nunca, ele vai sair?!Então e a promessa do “Vamos ver” feita no Marquês em Maio em alusão à luta pelo bicampeonato que escapava há 71 anos?! Não posso acreditar! Não, o Rúben vai ficar. Ele prometeu aos jogadores que iria ficar mais uma temporada. Ele convenceu os nossos melhores elementos a ficar mais um ano para ganharem tudo e escreverem o seu nome para a eternidade na história do Sporting Clube de Portugal! Inácios, Diomandes, Hjulmands, Potes, Gyökeres, todos eles ficaram para lutar junto ao seu timoneiro, o treinador que, com toda a estrutura, revolucionou um Sporting moribundo, um Sporting que quase nunca passava do Natal!!! Ele vai ficar e no final da época, aí sim, vai sair, vai para outra liga mais forte, para um novo desafio, mas agora vai ficar para conquistarmos tudo!
Muitas noites dormiu mal a nação verde e branca na semana que decorreu entre o início do rumor e o anunciar da decisão final de Rúben Amorim.
"É agora ou nunca"
"No princípio da época e sempre disse isto, esta seria a minha última época." Mas "agora surgiu esta hipótese, e o Manchester pagou a cláusula."
"Dei tudo o que tinha, estou muito confortável, sou muito feliz, mas é uma oportunidade de uma vida"
Foi assim que Amorim se justificou após dias de angústia e em que não podia dizer realmente o que sentia. Mas estava feito. Rúben Amorim ia mesmo abandonar o Sporting. Num misto de revolta pela “traição” e de eterno agradecimento por cinco anos magníficos, os Sportinguistas viam Rúben Amorim sair rumo ao histórico Manchester United, onde ambicionava operar um “milagre” semelhante.
Mas antes de ir seguiram-se duas partidas absolutamente épicas. Primeiro o último tango de Amorim em Alvalade, o já mencionado histórico 4-1 ao Manchester City para a Champions.
Cânticos da bancada no final do jogo com o Manchester City.
Aplausos e agradecimentos à equipa, com destaque para Rúben Amorim, que se despedia de Alvalade com um resultado histórico.
E depois o último jogo de todos, em Braga, para a 11.ª jornada do campeonato. Essa partida foi um autêntico resumo em 90 minutos da passagem de Amorim pelo Sporting, com direito a nostalgia da época do primeiro título, onde a “Estrelinha” foi o nosso melhor jogador. Ir a perder por duas bolas a zero para o intervalo, empatar a partida aos 81 minutos e depois alcançar a reviravolta com golos aos 89 e 90+4 minutos... Amorim ensinou-nos a acreditar sempre que tudo era possível. Com Amorim foi sempre até ao fim!
OBRIGADO, AMORIM!
Foi neste misto de euforia e mau pressentimento que numa pausa para os jogos das seleções entrou o novo treinador. João Pereira. O ex-jogador cumpria os seus primeiros anos como treinador nos Sub-23 e na equipa B do Sporting, mas já era tido como o natural sucessor de Rúben Amorim, a tal ponto da sua ascensão à equipa A estar planeada já para a época seguinte. Na apresentação, Frederico Varandas ousou vaticinar que rapidamente também João Pereira seria demasiado grande para o Sporting... Bem, nos 8 jogos que esteve ao leme da equipa A, João Pereira somou 3 vitórias, 1 empate e 4 derrotas. Só falando do campeonato, no qual a equipa estava 100% vitoriosa nos 11 jogos disputados até então, desperdiçou 8 pontos em 12 possíveis. A equipa sofreu as únicas derrotas (duas) no campeonato e perdeu a liderança isolada. De cinco pontos de avanço face ao segundo classificado à 11.ª jornada, o Sporting fechava a 15.ª um ponto atrás do rival Benfica, com quem iria jogar logo a seguir ao Natal, na penúltima jornada da primeira volta. Na Taça de Portugal, depois da expectável goleada ao Amarante, os leões sofreram para eliminar o Santa Clara no prolongamento em Alvalade, o adversário que tinha desferido a primeira derrota na liga, também no nosso estádio. Na Champions League, o sonho da passagem direta aos oitavos de final esfumava-se com o pesado resultado (1-5) ante o Arsenal em casa, mas sobretudo com a derrota em Brugge (2-1). Perante isto, o empate a zero em Barcelos para o campeonato antes do Natal sentenciou a saída da equipa técnica de João Pereira. E como iríamos perceber, o Gil Vicente haveria de ser um dos ossos mais duros de roer ao longo desta temporada 2024-2025...
Assim, o Sporting ficava sem treinador em vésperas de Natal e a meros dias de receber o eterno rival Benfica, que agora era o líder do campeonato com 1 ponto de vantagem. Fomos do céu ao inferno em mês e meio. A equipa avassaladora das épocas anteriores e do primeiro terço da temporada estava absolutamente irreconhecível. Caíra numa depressão pela saída do líder em que acreditava cegamente, numa relação de amor que catapultara o Sporting de novo para a relevância futebolística e fizera de novo sonhar uma massa adepta resiliente e devota como não há igual em Portugal. Agora tudo parecia perdido. Já ninguém dava nada por nós. Se calhar nem em terceiro lugar íamos ficar...
Era hora de mudar!
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