Há 100 anos atrás, o mundo saído da Primeira Grande Guerra debatia-se com a emergência da Gripe Espanhola, doença que vitimou 5-10% dos 500 milhões de pessoas que foram afetados por todo o mundo. Já a nossa geração teve a sorte de apenas experienciar uma pequena amostra da capacidade pandémica destes vírus Influenza H1N1 quando, em 2009, teve de enfrentar a Gripe Suína. A tal que nos pôs a todos a desinfetar as mãos com soluções alcoólicas e a acorrer às farmácias em busca de Tamiflu®.
Agora, 100 anos mais tarde, a nossa geração está perante um grande desafio. A luta é contra um Coronavirus, microrganismo que se tornou rei num mundo dominado pela pandemia das doenças não-comunicáveis. A obesidade e a diabetes eram globalmente os principais desafios de Saúde Pública até Dezembro de 2019. Mas agora isso pouco importa. Comprem bolos, chocolates ou até refrigerantes... Isso agora pode esperar. O mais importante é que se abasteçam e se fechem em casa!
É isso mesmo. Stay the fuck home! Fiquem em casa! É este o nome do movimento lançado pelo jovem empresário de Frankfurt Florian Reifschneider para chamar à atenção da importância de todos (todos mesmo!) respeitarem a quarentena social voluntária que poderá conter a disseminação da doença COVID-19.
Home. Lar. Estas últimas semanas não têm sido nada fáceis. Se por um lado como médico tenho de aplaudir as medidas extremas tomadas para tentar travar esta nova infeção, por outro, como ser humano que possui um coração sensível às catecolaminas da emoção, não posso ficar indiferente à tristeza que este isolamento social está a votar as nossas famílias.
Não o posso ignorar. Não posso ficar indiferente quando vejo uma filha chorar pelas saudades que tem da sua mãe. Saudades motivadas pela recusa em vê-la na nobre esperança de a poupar a uma possível doença que nem sabe sequer se é ou não portadora.
Enfim, começo seriamente a temer que este novo Coronavirus não nos vai apenas vitimar de dificuldade respiratória. Esta COVID-19 também nos vai fazer sucumbir de asfixia mental! Temo não só pela saúde física dos afetados, mas sinceramente o que me preocupa ainda mais é a emergência de comportamentos discriminatórios para com os outros. Encerrem-se as fronteiras físicas, não as fronteiras psicológicas!
Bem, nós cá por casa já deixamos de visitar os meus avós. O almoço de domingo na casa de uns e o jantar na casa dos outros está suspenso! E não foi apenas agora que o próprio Governo assim decretou. Foi já no fim de semana anterior que tomamos esta decisão. Afinal, tratam-se de idosos, já com as suas doenças crónicas, enfim o terreno propício para a letalidade de uma qualquer infeção respiratória mais complicada. Só que esta COVID-19 tem o condão de se espalhar mais que as enfermidades que já ganharam o rótulo de sazonais. E quanto mais se propagar, mais pessoas poderá matar! É por isso que vejo com muito bons olhos as novas medidas de contenção tomadas esta 5.ªfeira. Só que estas têm um custo... E esse custo é a tristeza! No outro dia ainda vi o meu avô, mas foi através dos quadradinhos de uma janela. Parecia que estávamos ambos presos. Um fechado no interior de casa. O outro preso cá fora, onde os vírus andam à solta. E eu que ando no meio da pior da bicharada todo o ano, tenho de ser ainda mais responsável!
E a responsabilidade não é só minha, é de todos nós! TODOS NÓS!
Por mais que me custe (e se custa!) ver a minha mãe chorar por ter saudades da minha avó, quando esta ainda está viva, ela própria tem consciência que esta é uma medida a pensar no bem-estar da minha avó, da avó do meu amigo Bruno e da avó do doente que na 2.ªf vou ter à minha frente.
Por mais que me custe (e se custa!) ver a minha mãe chorar por ter saudades da minha avó, quando esta ainda está viva, ela própria tem consciência que esta é uma medida a pensar no bem-estar da minha avó, da avó do meu amigo Bruno e da avó do doente que na 2.ªf vou ter à minha frente.
Por isso: STAY THE FUCK HOME! FIQUEM EM CASA!
Vamos lá controlar isto depressa para podermos todos (TODOS!) voltar a ser felizes!
Este invisível bichinho, como lhe chama a minha neta, põe mesmo à prova a nossa capacidade de resistência. Felizmente que as videochamadas vão mitigando a saudade. E quem não tem esses meios para o fazermos como é o caso da minha mãe, então com 89 anos...
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