Conforme prometido na parte 4, vou agora ao Amalia’s Portuguese Flavours, onde tomei o último desayuno nesta viagem a Barcelona. Pedi uma sandes mista de pão integral e um galão. Pedir um galão em vez dum café au lait já de si era português o suficiente, mas para dar ainda mais aquele toque lusitano ao pequeno-almoço, adicionei um pastel de nata ao pedido.
A casa rapidamente foi enchendo à medida que o relógio passava das 9h, mas a azáfama não foi impediu de travar um pouco mais de conhecimento com o dono do estabelecimento, de seu nome To Zé. O simpático e dialogante português oriundo do Norte de Portugal, encontra-se emigrado há já 40 anos, primeiro nos Países Baixos e mais tarde na Catalunha. O espaço do Amalia’s é bastante agradável, tem à nossa disposição uma variedade de doces tipicamente portugueses, dos quais, além do pastel de nata que saboreei, há a destacar as Tortas de Azeitão e o clássico bolo de arroz.
Pequeno-almoço no Amalia's Portuguese Flavours
Para este último dia reservei a manhã para visitar o Arc de Triomf, outrora a entrada principal da Exposição Universal de 1888, e agora um marco imponente que convida os turistas a percorrer o Passeig de Lluís Companys, que nos conduz ao majestoso Parc de la Ciutadella.
Majestoso, sem dúvida, mas (in)felizmente parcialmente em obras com conclusão prevista para outubro deste ano de 2025. Assim, a sua beleza encontrava-se perturbada pelo ruído das máquinas em trabalhos. Não obstante, recomendo vivamente a visita a um local onde um casal pode andar meia hora de canoa por 7€, remando vagarosamente na tranquilidade das águas de um lago, em comunhão com os cisnes que o ornamentam.
A beleza do lago no Parc de la Ciutadella.
Outras das atrações que me chamaram à atenção foi a imponente fonte Cascada Monumental. O nome fala por si. O efeito visual das águas a mergulharem no pequeno lago, ladeadas por dois lances de escadas que se abraçam no cimo de um edifício onde no topo reina o coche conduzido por três cavalos reluzente como ouro é simplesmente arrebatador! Uma prova da influência francesa na Catalunha, a fazer lembrar as extravagâncias do rei Luís XIV.
A imponência e exuberância da cascada monumental no Parc de la Ciutadella.
Depois de encontrar o caminho para sair daquela selva de beleza era para me dirigir diretamente ao hotel e fazer o check-out, mas pelo caminho dei de caras com o Museu Bansky de Barcelona e então decidi pagar a entrada e visitar a obra dum dos mais renomeados e enigmáticos artistas urbanos dos tempos contemporâneos.
Já eram onze e tal quando saí, parei num Carrefour Market, para lanchar um iogurte e um pão, continuei para a Plaça de Catalunya, depois passei a Universitat de Barcelona e finalmente cortei à direita para o hotel.
Check-out efetuado, mochila posta às costas, apanhei de novo o Metro L5 na paragem Hospital Clinic, onde havia chegado no segundo dia, e rumei em direção a Collblanc, no distrito de Les Corts. O objetivo deste desvio era concluir esta incursão a Barcelona, com às instalações do FC Barcelona. Como o emblemático Camp Nou se encontra em remodelação, a sempre apetecível stadium tour teve de ficar para outra visita e ser substituída por uma experiência imersiva. Mas antes disso fui almoçar. Escolhi um restaurante nas imediações do estádio, o Corleone. E para não destoar das minhas outras experiências gastronómicas nesta viagem, esta escolha também não foi a mais acertada. Mas também quem pede ovos rotos e polvo à galega num restaurante italiano põe-se a jeito. Ainda assim, o espaço era visualmente agradável e permitiu-me aproveitar o tempo até à hora da visita para rascunhar esta crónica que agora acabo de publicar.
Avançando, então, para a tour blaugrana, devo dizer que foi uma autêntica e maravilhosa viagem à minha infância, adolescência e início de vida adulta. À entrada somos chamados a tirar uma foto com o cachecol do Barcelona, que depois teremos de pagar no final se a quisermos guardar. De seguida entramos num setor que reúne diversa memorabília devidamente ordenada pelos períodos da história do Barça. No final à direita somos impelidos a sentarmo-nos enquanto corre na tela o vídeo promocional da academia de La Masia, berço de grandes talentos como Messi, Iniesta, Xavi, Piqué, entre tantos outros ídolos do futebol mundial.
O passado dá lugar ao presente na secção seguinte. Nela podemos ver diversos pilares revestidos com ecrãs táteis que nos permitem fazer o tão moderno scroll e selecionar um dentre os futebolistas que compõem os atuais plantéis séniores masculino e feminino da turma catalã.
Depois segue-se o museu propriamente dito, com o desfilar dos inúmeros troféus conquistados ao longo dos anos, com óbvio destaque para as cinco “orelhudas” que simbolizam a vitória em cinco edições da atual Liga dos Campeões da UEFA.
Se isto já seria mais do que suficiente para me prender durante largos minutos, o que se seguiu foi ainda mais sedutor. Serpenteando o museu chegamos a uma parede inteira repleta de camisolas do FC Barcelona. Aí encontramos exemplares das várias camisolas principais e alternativas desde os anos 60 até aos anos mais recentes. Sendo eu um colecionar de peças deste género, não pude deixar de examinar cada uma com a minúcia possível, ao ponto de descobrir que os exemplares da Nike da transição dos anos 90 para os 2000, vestidos por Luís Figo, Fernando Couto, Vítor Baía e Simão Sabrosa, foram fabricados nada mais, nada menos do que em... Portugal! Sim, em Portugal! Eu, que já sou de uma era em que a indumentária desportiva é quase toda ela fabricada em países asiáticos, fiquei estupefacto ao descobrir que há vinte-trinta anos atrás, a gigantesca marca norte-americana que me calçava nesse dia, tinha atividade no nosso país!
Pormenor da camisola principal do FC Barcelona da época 2001-2002, fabricada em Portugal.
E da sedução das camisolas passei para a sublime prisão da nostalgia.
Sim, porque de costas voltadas para o mural das camisolas, encontrava-se outro mural, este eletrónico, que nos permitia escolher dentre os diversos momentos altos das várias modalidades blaugrana e revivê-los em vídeo. Eu que quase só acompanhei o futebol, pude regressar aos piques de Ronaldo Fenómeno, à bicicleta de Rivaldo, ao golo de Belleti em Paris, à magia do primeiro Barcelona de Guardiola, aos feitos épicos do trio Messi-Suarez-Neymar... Enfim, tanta, tanta coisa, que me lembro apenas de tirar a mochila das costas, pousá-la junto aos meus pés, e simplesmente ficar ali, detido quase uma hora, os olhos fixados no ecrã à medida que assistia ao sedutor e ternurento desfilar da “minha vida”.
Mural de homenagem a Leonel Messi no Museu do FC Barcelona.
O aproximar da hora de fecho da experiência imersiva fez-me despertar do sonho. Peguei na mochila e segui em frente, onde esbarrei logo no mural de homenagem a Leonel Messi. À direita tínhamos a entrada para o túnel de acesso à experiência 360, uma sala circular envolvida numa tala a toda à volta que exibe uma sucessão de vídeos com vários momentos da história recente do FC Barcelona, verdadeiramente galvanizante.
Um vislumbre da Experiência 360 que termina a viagem pela Tour FC Barcelona.
Finda esta experiência ainda houve tempo de visitar a loja oficial e reviver o dia em que comprei uma camisola do Deco e o meu falecido primo André a camisola do Messi, que naquela época de 2006/07 ainda era apenas uma jovem promessa que ostentava o número 19 nas costas.
E assim terminou uma viagem que era só para ver um espetáculo de wrestling, mas que acabou por evoluir para um excelente fim de semana prolongado, num lugar onde já fui muito feliz.
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