domingo, 8 de junho de 2025

Sporting Bicampeão 2025: a crónica - parte 2

 “Quando faltar inspiração, que não falte a atitude!”

Foi com este mote que Rui Borges se apresentou ao universo leonino no dia 26 de dezembro de 2024.

 

O treinador estava a cumprir uma primeira metade de temporada de sonho aos comandos do Vitória SC, com uma participação esdrúxula na Liga Conferência. Um ex-jogador modesto que subiu paulatinamente na hierarquia do futebol nacional até se tornar num dos mais promissores dentre os treinadores da nossa liga. Um homem simples de Mirandela, antítese perfeita do “Sporting dos ricos”, como muitas vezes nos chamam os rivais.

 

E era precisamente contra o grande rival Benfica que a nova equipa técnica se iria estrear, escassos três dias transcorridos após a apresentação. O cenário não poderia ser por isso mais negro para a turma de Alvalade... Mas no dia 29 de dezembro de 2024, o que vimos no campo foi uma equipa absolutamente transformada. E com muita, muita atitude! De gatinhos adormecidos, como que anestesiados por cetamina ou propofol desde a saída de Amorim, Viktor Gyökeres e companhia apresentaram-se em campo como autênticos leões à solta. Se antes se arrastavam pelo campo, agora cavalgavam como se a sua vida dependesse daquela vitória. ATITUDE! A atitude do Sporting avassalador estava de volta. A inspiração não era a mesma, mas a atitude essa sobressaía de forma inegável. “O nosso Sporting está de volta!!!”, disse eu aos amigos que comigo viram este Sporting vs Benfica num bar perdido nos becos de Madrid. Ganhamos esse jogo por 1-0, com Geny Catamo a ser novamente o caça-águias de serviço, e recuperamos a liderança que muitos já diziam estar perdida para sempre.


Festejos da vitória contra o Benfica, em Madrid, com os meus amigos David Coutinho e André Peixoto.


Claro que na primeira jornada de 2025, no fecho da primeira volta, veio aquele empate agridoce em Guimarães, no jogo mais louco do campeonato. Quem diria que podíamos ter perdido uma partida em que Gyökeres faz um hat-trick? Não fosse o golo de bandeira que Trincão fez ao cair do pano para selar o 4-4 final e o desfecho do campeonato poderia ter sido bastante diferente... Ainda para mais este golo tardio aconteceu numa jornada em que Benfica e Porto ambos perderam, transformando assim dois pontos perdidos num ponto ganho! Incrível. E a montanha-russa de emoções deste campeonato ainda só estava no início!

 

Depois seguiu-se a pausa para a Final Four da Taça da Liga e obviamente que a derrota deixou mossa. Em Leiria, o Sporting eliminou o FC Porto na meia final para depois perder nos penalties o troféu para o Benfica. Francisco Trincão falhou o penalty decisivo numa altura em que se encontrava bastante desgastado. Era (e foi) o jogador mais utilizado em toda a época e não merecia ter sido ele a sair cabisbaixo do relvado. Ainda assim, a reação dos colegas e dos adeptos foi tremenda em o apoiar. E ele haveria de ter a sua redenção...

 

“Se não ganhámos esta Taça da Liga é porque há algo muito melhor guardado para nós”. 

 

Foi com esta frase inspiradora e profética, a fazer lembrar Fernando Santos no Euro 2016, que Rui Borges reagiu no pós-jogo, a 11 de janeiro de 2025.

 

Sócios do Núcleo Sportinguista de Penacova em Leiria, para a Final da Taça da Liga. Da direita para a esquerda: eu, Zé Pedro Paiva, Ricardo Teixeira, Pedro Afonso Assunção e Rodrigo Silva.


A meio de janeiro era mesmo necessária muita crença para uma equipa cansada e desgastada física e mentalmente se poder aguentar nos quase 5 meses que faltavam cumprir. Uma das explicações para todo este desgaste advinha da outra grande contrariedade que assolou a época verde e branca. Além da súbita saída de Rúben Amorim em novembro, a temporada leonina ficou marcada por uma inaudita onda de lesões musculares e macrotraumáticas que se iniciou em Famalicão com a perda de Nuno Santos. No último jogo de Amorim perdemos Pedro Gonçalves. E depois com João Pereira vários jogadores, entre os quais Morita, Inácio e Eduardo Quaresma sofreram lesões que os afastaram durante semanas. Com Rui Borges o azar prosseguiu, notavelmente com nova rotura do ligamento cruzado anterior a afastar Daniel Bragança no empate ante o Arouca. Também o nosso grande capitão Hjulmand e o nosso Exterminador Implacável Gyökeres estiveram de fora ou condicionados durante algumas partidas. Perante um incêndio desta dimensão, que não parava de consumir hectares em Alcochete, os alarmes do quartel da equipa B soaram sem parar durante semanas e os bombeiros de pronto lançaram as escadas rumo à equipa A para a tentar salvar da anunciada morte lenta e agoniante. É que um dos fatores principais que dita o sucesso de uma equipa de futebol é precisamente a ausência de lesões ao longo da temporada. A própria ciência fazia crer que o Sporting não iria conseguir manter-se na luta pelo título, mas nem isso nos parou! Nem mesmo quando os próprios jovens da equipa B também sucumbiam a lesões, como foi o caso do notável João Simões, figura maior deste corpo de bombeiros que nos segurou de dezembro a março. É absolutamente impressionante como, com tanta contrariedade e com um rival Benfica com um plantel tão rico e profundo, o Sporting nunca tenha descolado da liderança do campeonato! Incrível!


Ambiente na zona das roulotes antes do jogo em casa contra o Farense.

Ambiente dentro do estádio no jogo contra o Farense, que terminou com vitória por 3-1 e com mais um cliente para a longa lista do departamento médico, Geny Catamo.

Ainda assim, houve um momento em que podíamos ter deitado tudo a perder. Falo da sequência de três empates seguidos nos jogos FC Porto (fora) – Arouca (casa) – AVS (fora), em que muitas vezes deixamos fugir a vitória nos minutos finais. Se Rui Borges trouxe de novo a atitude ao plantel, a verdade é que o seu Sporting entrava forte nas partidas, adiantava-se no marcador, mas teimava em deixar escapar muitos pontos nos derradeiros instantes. E mais pontos teriam voado não fosse ter chegado em janeiro ao Sporting o guarda-redes Rui Silva, português perdido por Espanha, que veio trazer à equipa a segurança que faltava na baliza. Mas nem mesmo ele conseguiu evitar que, no infame jogo contra o SC Braga em Alvalade, uma volta depois da saída de Amorim, os leões deixassem escapar dois pontos perto do final, num jogo em que Gyökeres marcou golo num livre de génio e que a “maçã podre” João Moutinho foi expulsa para gáudio das bancadas que passaram o jogo todo a assobiar violentamente o seu antigo capitão. Foi uma viagem muito difícil de Lisboa até Coimbra nessa segunda feira, 7 de abril, pois o Benfica tinha goleado o FC Porto na véspera e com isso reassumido a liderança, algo que não acontecia desde o Natal.


Momento especial patrocinado pela Betano antes do início do jogo contra o SC Braga.

 

A apoiar nas bancadas no jogo em casa contra o SC Braga que terminou empatado a uma bola, resultado que deixava o Benfica isolado na liderança.

 

Estávamos, portanto, em abril de 2025. E a minha cabeça começava a construir o pior dos cenários, fruto de vários factos históricos que de novo se reuniam. O Papa Francisco falecia em abril, vinte anos depois do Papa João Paulo II se ter despedido do mundo terreno, em abril de 2005. Precisamente nessa amarga campanha de 2004-2005, o Sporting de José Peseiro, apesar de encantar a Europa com o seu futebol, ia acabar por perder todos os troféus nos momentos decisivos. Era o tempo do “Sporting Clube dos Foices”, como um amigo de escola me dizia: “foice a Taça, foice a Taça Uefa, foice o campeonato”.

 

Será que vinte anos depois estaríamos perante um novo “Sporting Clube dos Foices”?! 

 

Será que o jogo da Supertaça, em que deixamos fugir uma vitória mais do que certa, não passou de uma grande premunição, um resumo antecipado do que afinal seria esta temporada 2024-2025?!

 

Será?!

 

Calma!

 

Calma que na semana a seguir o Benfica escorrega em casa na receção ao Arouca e deixa fugir de novo o primeiro lugar para o Sporting... Este campeonato estava impróprio para cardíacos!

 

E mais taquicardizante ainda ficou quando o Sporting recebeu o Gil Vicente. Os galos de Barcelos adiantaram-se na primeira parte de penalty e estiveram a ganhar até ao minuto 81. Nessa altura, Harder remata para onde estava virado, a bola ressalta num adversário e sobra direitinha para Maxi Araújo empatar; e depois, ao minuto 90+3, na sequência de um canto, Eduardo Quaresma remata de longe, com a bola a desviar num defensor para morrer no fundo da baliza, fazendo explodir o estádio. Absoluta loucura! Um final de jogo digno da temporada do primeiro título com Amorim. Ele estava longe, mas a “Estrelinha” voltava a iluminar Alvalade!

 

O tal golo de Eduardo Quaresma ante o Gil Vicente e a euforia que se seguiu, visto da bancada superior atrás da baliza. Créditos a um amigo sportinguista que lá esteve.


Graças a este final à Hitchcock o Sporting chegava à jornada 33 na liderança, com um ponto de vantagem sobre o Benfica. A penúltima jornada no Estádio da Luz, a 11 de maio, transformava-se assim na verdadeira final antecipada do campeonato. Se o Benfica ganhasse por dois golos de diferença, ultrapassava o Sporting e sagrava-se campeão. Se o Sporting ganhasse faria a festa na Luz. Se empatassem ficava tudo adiado para a derradeira jornada, com o Sporting em vantagem. E foi precisamente o último cenário que aconteceu. Francisco Trincão (vejam quem!) abriu o marcador num belo remate de primeira logo aos 4 minutos. Na segunda parte o Benfica veio com tudo para cima de nós, mas apenas logrou empatar por Aktürkoğlu. Mesmo com aquela sombra de deixar escapar pontos nos últimos minutos a fazer acelerar os corações leoninos, a verdade é que Schjelderup não foi capaz de aproveitar o último lance de perigo e o jogo terminou empatado a uma bola.

No bar na sede do Núcleo Sportinguista de Penacova, a festejar o saboroso empate frente ao Benfica.

 

E a euforia tomou conta dos adeptos leoninos e a depressão dos encarnados. Houve muitos excessos nessa noite. A turma de Alvalade foi brindada por uma receção apoteótica em Alvalade por milhares de torcedores que pareciam estarem já a fazer a festa da vitória final. Só que ainda faltava um jogo. E era com o Vitória SC. 

 

Nessa última jornada, a 18 de maio, o Sporting recebia então o Vitória SC e o Benfica ia a casa do SC Braga. O Sporting jogou mal a primeira parte, a fazer lembrar a exibição cinzenta contra o Gil Vicente. Só que o Benfica ia perdendo em Braga e isso dava o título aos leões. E depois na segunda parte, ao minuto 55, Pedro Gonçalves concluiu uma boa jogada de equipa com um remate de belo efeito, carregado de poesia pelo calvário pelo qual passou nesta temporada, fazendo saltar de alegria as bancadas nervosas de Alvalade. O Benfica ainda empatou a partida em Braga, mas aos 83 minutos a nossa máquina assassina sueca, Viktor Gyökeres, sentenciou a partida. E nos festejos tirou a camisola, contraiu todas as fibras da armadura natural a que chama corpo e em direção às bancadas fez a máscara que o celebrizou.

 

As bancadas explodiam. As lágrimas escorriam.

 

71 anos depois, o Sporting conquistava o bicampeonato!


A celebrar o bicampeonato na sede do Núcleo Sportinguista de Penacova, com o meu grande amigo Zé Pedro Paiva, com quem partilho muitos destes momentos.


Todo o Núcleo Sportinguista de Penacova a entoar bem alto O Mundo Sabe Que no final do jogo que deu o bicampeonato ao Sporting.


sábado, 7 de junho de 2025

Sporting Bicampeão 2025: a crónica - parte 1

 Agosto de 2024. Estádio Municipal de Aveiro. O ecrã gigante marcava 3-0 à passagem do minuto 24 quando o estreante Geovany Quenda fazia o terceiro golo dos campeões nacionais ante um FC Porto apático. Inacreditável! Ninguém no estádio conseguia acreditar no que estava a acontecer. Só que o sonho de uma vitória gorda ante um dos maiores rivais começou logo a desmoronar-se quando à minha frente, Zeno Debast, reforço belga caro de verão, comete um erro que entrega de bandeja o 3-1 a Galeno. E o resto é história. Os portistas galvanizados conseguiram empatar o jogo e depois no prolongamento, num lance fortuito, que não deixou nada bem na fotografia a nova aquisição para a baliza, Vladan Kovačević, Iván Jaime completou uma reviravolta épica que deu a Supertaça Cândido de Oliveira ao FC Porto. Do céu do 3-0 ao Inferno do 3-4 em pouco mais de 1 hora... Foi assim que principiou a temporada 2024-2025 para o Sporting campeão nacional.

A minha visão da partida da Supertaça, ainda com o marcador a zeros. Foi aqui perto que vi o FC Porto reduzir para 3-1.


Antes do jogo em Aveiro, com os irmãos Bernardo e Tomás Paçó, estrelas do futsal do Sporting e fervorosos adeptos do clube que defendem. Estrelas, mas humildes. Até uma cerveja me ofereceram.

Tal como no ano anterior, quando a derrota nos descontos ante o Benfica na Luz pareceu ter acordado a equipa, também esta valente hecatombe parece ter despertado os nossos rapazes para a necessidade de enfrentar cada partida com a mesma garra dos 0 aos 90 minutos. É que nos 18 jogos seguintes, o Sporting ganhou todos, exceto o empate a uma bola no terreno do PSV para a Fase de Liga da Champions League. Neste período foram 59 golos marcados e apenas 9 sofridos, com destaque supremo para a goleada ao Manchester City em Alvalade no dia 5 de Novembro, na qual Viktor Gyökeres fez um hat-trick que o catapultou definitivamente para as manchetes do futebol europeu. Para o campeonato foram 11 vitórias em 11 jogos! O Sporting era um autêntico rolo compressor a fazer lembrar os inícios avassaladores de época do Benfica de Jorge Jesus e do FC Porto de Mourinho ou Villas Boas. Os Sportinguistas acordavam e adormeciam nas nuvens, nenhum adepto leonino tinha vivido um período tão áureo como este, e a euforia desmedida era tal que na brincadeira até já se falava em sermos campeões já em março e quem sabe irmos à final da Champions.


Erik ten Hag já não é treinador do Manchester United. No final de outubro, escassos dias antes da histórica goleada aos citizens, rebentava a notícia do despedimento do treinador do rival de Manchester. Confesso que de início me foi indiferente. Afinal desde a saída de Sir Alex Ferguson que o Manchester tem sido o cemitério de treinadores que o meu Sporting foi ao longo das últimas décadas. Contudo, dias depois os alarmes soaram quando vários órgãos de comunicação social começaram a perfilar o nosso treinador, Rúben Amorim, como o mais provável sucessor.  

O quê?! Rúben Amorim sair a meio da época?! Agora que o Sporting finalmente está forte como nunca, ele vai sair?!Então e a promessa do “Vamos ver” feita no Marquês em Maio em alusão à luta pelo bicampeonato que escapava há 71 anos?! Não posso acreditar! Não, o Rúben vai ficar. Ele prometeu aos jogadores que iria ficar mais uma temporada. Ele convenceu os nossos melhores elementos a ficar mais um ano para ganharem tudo e escreverem o seu nome para a eternidade na história do Sporting Clube de Portugal! Inácios, Diomandes, Hjulmands, Potes, Gyökeres, todos eles ficaram para lutar junto ao seu timoneiro, o treinador que, com toda a estrutura, revolucionou um Sporting moribundo, um Sporting que quase nunca passava do Natal!!! Ele vai ficar e no final da época, aí sim, vai sair, vai para outra liga mais forte, para um novo desafio, mas agora vai ficar para conquistarmos tudo!

 

Muitas noites dormiu mal a nação verde e branca na semana que decorreu entre o início do rumor e o anunciar da decisão final de Rúben Amorim.

 

"É agora ou nunca"

 

"No princípio da época e sempre disse isto, esta seria a minha última época." Mas "agora surgiu esta hipótese, e o Manchester pagou a cláusula." 

 

"Dei tudo o que tinha, estou muito confortável, sou muito feliz, mas é uma oportunidade de uma vida"

 

Foi assim que Amorim se justificou após dias de angústia e em que não podia dizer realmente o que sentia. Mas estava feito. Rúben Amorim ia mesmo abandonar o Sporting. Num misto de revolta pela “traição” e de eterno agradecimento por cinco anos magníficos, os Sportinguistas viam Rúben Amorim sair rumo ao histórico Manchester United, onde ambicionava operar um “milagre” semelhante.

 

Mas antes de ir seguiram-se duas partidas absolutamente épicas. Primeiro o último tango de Amorim em Alvalade, o já mencionado histórico 4-1 ao Manchester City para a Champions. 

Cânticos da bancada no final do jogo com o Manchester City.

Aplausos e agradecimentos à equipa, com destaque para Rúben Amorim, que se despedia de Alvalade com um resultado histórico.

E depois o último jogo de todos, em Braga, para a 11.ª jornada do campeonato. Essa partida foi um autêntico resumo em 90 minutos da passagem de Amorim pelo Sporting, com direito a nostalgia da época do primeiro título, onde a “Estrelinha” foi o nosso melhor jogador. Ir a perder por duas bolas a zero para o intervalo, empatar a partida aos 81 minutos e depois alcançar a reviravolta com golos aos 89 e 90+4 minutos... Amorim ensinou-nos a acreditar sempre que tudo era possível. Com Amorim foi sempre até ao fim!

 

OBRIGADO, AMORIM!

Tarja de agradecimento a Rúben Amorim revelada antes do principiar do jogo com o Manchester City.

Foi neste misto de euforia e mau pressentimento que numa pausa para os jogos das seleções entrou o novo treinador. João Pereira. O ex-jogador cumpria os seus primeiros anos como treinador nos Sub-23 e na equipa B do Sporting, mas já era tido como o natural sucessor de Rúben Amorim, a tal ponto da sua ascensão à equipa A estar planeada já para a época seguinte. Na apresentação, Frederico Varandas ousou vaticinar que rapidamente também João Pereira seria demasiado grande para o Sporting... Bem, nos 8 jogos que esteve ao leme da equipa A, João Pereira somou 3 vitórias, 1 empate e 4 derrotas. Só falando do campeonato, no qual a equipa estava 100% vitoriosa nos 11 jogos disputados até então, desperdiçou 8 pontos em 12 possíveis. A equipa sofreu as únicas derrotas (duas) no campeonato e perdeu a liderança isolada. De cinco pontos de avanço face ao segundo classificado à 11.ª jornada, o Sporting fechava a 15.ª um ponto atrás do rival Benfica, com quem iria jogar logo a seguir ao Natal, na penúltima jornada da primeira volta. Na Taça de Portugal, depois da expectável goleada ao Amarante, os leões sofreram para eliminar o Santa Clara no prolongamento em Alvalade, o adversário que tinha desferido a primeira derrota na liga, também no nosso estádio. Na Champions League, o sonho da passagem direta aos oitavos de final esfumava-se com o pesado resultado (1-5) ante o Arsenal em casa, mas sobretudo com a derrota em Brugge (2-1). Perante isto, o empate a zero em Barcelos para o campeonato antes do Natal sentenciou a saída da equipa técnica de João Pereira. E como iríamos perceber, o Gil Vicente haveria de ser um dos ossos mais duros de roer ao longo desta temporada 2024-2025...

 

Comitiva de adeptos leoninos em Brugge antes do jogo para a Fase de Liga da Champions League.
Um agradecimento particular ao meu amigo David Coutinho por me "arrastar" para estas brincadeiras.


Ambiente no estádio Estádio Jan Breydel no jogo Club Brugge KV 2 vs Sporting CP 1.


Assim, o Sporting ficava sem treinador em vésperas de Natal e a meros dias de receber o eterno rival Benfica, que agora era o líder do campeonato com 1 ponto de vantagem. Fomos do céu ao inferno em mês e meio. A equipa avassaladora das épocas anteriores e do primeiro terço da temporada estava absolutamente irreconhecível. Caíra numa depressão pela saída do líder em que acreditava cegamente, numa relação de amor que catapultara o Sporting de novo para a relevância futebolística e fizera de novo sonhar uma massa adepta resiliente e devota como não há igual em Portugal. Agora tudo parecia perdido. Já ninguém dava nada por nós. Se calhar nem em terceiro lugar íamos ficar...

 

Era hora de mudar! 

quinta-feira, 15 de maio de 2025

Crónica aos 61 anos dos Solteiros x Casados de Penacova

Camisola dos 61 anos dos Solteiros x Casados de Penacova.

No passado dia 19 de abril de 2025, no Sábado de Aleluia, celebrou-se a 61.ª Edição dos Solteiros x Casados em Penacova, uma tradição muito antiga no nosso concelho.

Desde a primeira edição em 1964, todos os anos é nomeada uma comissão que é incumbida da nobre tarefa de providenciar um Sábado de Aleluia de muita alegria e folia aos penacovenses. Este ano, o grupo responsável por levar a cabo a missão incluiu por ordem alfabética: António “Iscas” Duarte, Ana Amaral, André Amante, André Rafael Soares, Arsénio Senisga, Diana Felgar, Eduardo "Kabasaki" Assunção, Filipe Amante, Gonçalo Engenheiro, José Cunha ("Zé do Judo"), Magda Rodrigues, Óscar Simões, Pedro Martinho, Rafael Ferreira, Ricardo Simões e Tiago "Tuca" Costa.

 

A preparação começa habitualmente com a recolha de donativos nos Reis. Nessa noite fria de janeiro, mais uma vez o calor da população de Penacova fez-se sentir nos donativos que foram enchendo o saco com o passar das horas. Horas essas que eram para ter terminado num fino, dois ou quiçá três no Jó das Bifanas, cuja boa fama é conhecida de Norte a Sul do país e além-fronteiras. Contudo, para alguns já só findou de madrugada, vários metros acima (e não, não se trata de um trocadilho), no antigo bar RedLine (agora simplesmente Red), na Cheira.

 

Depois seguiram-se as verdadeiras reuniões preparatórias, onde se teceu a estratégia para levar a festa avante. Ao longo dos anos, há certas “tradições” que se se têm mantido no seio desta grande Tradição. Existem os habituais patrocinadores que já estão a contar com a sua participação anual e também pessoas que têm o gosto de desempenhar um determinado papel no evento. Tudo isto facilita a organização anual deste evento aos mordomos que se vão sucedendo. O design gráfico esteve a cargo do mordomo Rafael Ferreira, com a qualidade bem patente nas camisolas e na caneca-brinde.

 

Chegada a Sexta Feira Santa, pelas 22h, a comissão reúne-se no Terreiro e de lá segue para o Café Turismo para a antecâmara do primeiro ato do convívio, o assar das chouriças e das morcelas à meia noite. Enchidos fornecidos pelo Talho do Celso, sito em frente à Caixa Geral de Depósitos. Como o São Pedro nos mandou chuva, tivemos de acender as brasas no abrigo do Parque de Estacionamento de Penacova, gentilmente cedido pela Câmara Municipal. É também nesta altura que se provam pela primeira vez as famosas águas de cor rouge de Monte Redondo, tradicionalmente transportadas imaculadamente até ao centro do município pela família Brás. Há anos em que essas águas jorram do pipo de madeira, outros há, como este, em que o néctar dos deuses vem aconchegado em garrafões. A qualidade, essa, quem prova nunca esquece! (Ou melhor...)

 

As três mulheres mordomas, Diana Felgar (à esquerda), Ana Amaral (ao centro) e Magda Rodrigues (à direita).


Na manhã seguinte de Sábado de Aleluia, com mais ou menos horas de sono, logo bem cedinho, eis que chega a altura da espampanante e triunfante chegada dos gaiteiros. Gladiados por alguns dos mordomos da festa, este grupo percorre os recantos da vila de Penacova, espalhando alegria e boa disposição aos habitantes, de porta em porta. 

 

Gaiteiros a "acordar" a vila de Penacova.


Concomitantemente, os restantes mordomos e amigos que se juntam para ajudar encarregam-se de ir preparando o generoso repasto coletivo que, em virtude do mau tempo, também teve de ser cozinhado e servido no Parque de Estacionamento. É preciso cortar batatas e preparar os rojões, cozinhados com a sabedoria da antiga cozinheira da Escola Primária, a Sra. Dona Lurdes, avó do mordomo André Soares. Estes saborosos pedaços vão-se juntar ao prato principal, a carne de porco, grelhada por cada um dos conviventes nos grelhadores que, depois de uma noite de árduo labor, pegam de novo ao trabalho para matar a fome aos amigos que se juntam em seu redor.

 

Os grelhadores a trabalhar a bom ritmo no almoço no Parque de Estacionamento municipal.


Para providenciar a festa de um financiamento extra, a comissão também se encarregou de encomendar t-shirts alusivas ao evento. Houve tamanhos para todos, do S ao XXL, mas os maiores esgotaram rápido. Por isso, quem não conseguiu a sua este ano, em 2026 tem de acorrer logo à banca para não perder a desejada recordação.

 

A refeição foi decorrendo a bom ritmo, juntando amigos e famílias que se veem todos os dias, todas as semanas ou apenas todos os anos. Mais para o fim do almoço, os gaiteiros voltam a dar o ar da sua graça e entretêm as gentes de Penacova, enquanto não chega a hora de rumar ao recinto do ansiado derby Solteiros x Casados.


Gaiteiros a animar o almoço.

 

Este ano esse clássico pascal do futebol municipal decorreu no Estádio da Feira Nova, em Gavinhos. Alguns membros da comissão foram mais cedo para, em colaboração com a Direção da União FC, a quem muito agradecemos os seus esforços e diligências, abrir os balneários e colocar a maglia de jogo. O manto sagrado, esse, foi gentilmente fornecido pela Junta de Freguesia de Penacova, que este ano renovou o leque de equipamentos de jogo, que com o decorrer das edições acabam por se desgastar.


Camisolas de jogo no balneário dos Solteiros.


Além das camisolas, há um elemento imprescindível ao bom curso da partida: o belo do garrafão de vinho, estrategicamente posicionado no banco de suplentes dos Solteiros, autêntico e potente agente dopante que ninguém vai controlar no final dos “90” minutos. Noventa entre aspas, porque o dia já ia longo e a noite ainda tinha um jantar no menu da festa, e como tal, a duração da partida teve de ser encurtada para meia hora para cada parte e mesmo assim, a última meia hora até parece que passou mais depressa do que a primeira... O que foi uma pena, pois os espectadores que acorreram neste dia chuvoso ao recinto da União FC bem que mereciam ter sido prendados com mais uma dúzia de jogadas de categoria por parte dos grandes craques do nosso concelho.

 

Os atletas no aquecimento para o jogo.


O bandeirinha Ricardo Simões, um dos mordomos, que se deslocou mais cedo ao campo da Feira Nova para preparar o terreno para os atletas.


Bem, camisolas vestidas, sapatilhas ou chuteiras calçadas, e copo ou copos bebidos, os misteres deram a tática e o respetivo grito para motivar as odes. O pontapé de saída foi dado pelo mais antigo ex-jogador presente, Luís Amante e, ao contrário das expectativas, os Casados cavaram um fosso de dois golos no marcador logo na primeira parte, fruto de dois lances em que o guarda-redes dos Solteiros foi manifestamente mal batido. Ainda assim, os Solteiros não desanimaram. Com ligeiras alterações táticas, que incluíram a estratégica largada de vários miúdos na arena relvada para confundir os pais e tios da outra equipa, os Solteiros conseguiram repor a igualdade. E quando pareciam lançados para completar a remontada, eis que os Casados desferiram o duro golpe no estômago: 2-3 já bem perto do intervalo, em mais um lance fortuito do keeper solteiro que, entretanto, tinha substituído o primeiro guardião.

 


O grito dos Casados.

Com os Casados a vencerem por 3 bolas a 2 os Solteiros, o intervalo chegou e nele decorreu a merecida homenagem ao último “sobrevivente” do primeiro Solteiros x Casados a pendurar as botas, o Sr. Evaristo Amante. O homem de 77 anos logrou jogar durante as primeiras 60 edições dos Solteiros x Casados! Incrível! E se a chuva ainda não tinha entrado em campo, parece que quis mesmo abençoar o Sr. Evaristo, tamanha foi a carga de água que se abateu sobre todos nós quando Eduardo “Kabasaki” Assunção, treinador dos Casados, proferia as últimas palavras de homenagem a um homem que ainda no ano passado se exibia a alto nível na turma casada.

 

A chuvada que marcou o principiar do segundo tempo do derby.

 

Foi, portanto, debaixo de rajadas de chuva que se entrecruzavam numa dança que encharcava o relvado e os corajosos praticantes que a segunda parte principiou. Ainda assim, contra a desvantagem de uma bola e contra a intempérie, os Solteiros não desanimaram. O jogo endureceu, os nervos começavam a vir à flor da pele, fruto da pressão de manter a vantagem pelos Casados e de a desfazer pelos Solteiros. A segunda parte rolava e a bola teimava em não chegar à baliza casada. E era já quando tudo fazia crer que os Casados iriam levar a vitória para casa, que Dinis dos Solteiros recebe o esférico à entrada da área adversária, a uns 3 metros atrás da meia lua, olha para a baliza, puxa o pé direito atrás e remata em arco, fazendo a bola sobrevoar em câmara lenta toda a defensiva casada para a fazer morrer junto ao ângulo superior direito. As redes estremecem, o seu padrinho Pedro Rico cai no chão, após um esfoço inglório para tentar desviar o esférico do seu destino, e o banco dos Solteiros explode para abraçar o herói do momento. O jogo recomeçou e logo a seguir o árbitro, Arsénio Senisga, no alto do seu juízo imaculado, que torna dispensável qualquer VAR, apitou para terminar o derby que, pelo segundo ano consecutivo terminava empatado a três bolas.

 

Os planteis dos Solteiros e dos Casados na foto de grupo.


Fotografias de grupo tiradas, as equipas recolheram aos balneários, tomaram um duche rápido e depois, já com a hora a apertar, ainda fizeram uma perninha no bar do União FC, para logo a seguir rumarem ao Terreiro, onde as tropas se concentraram uma vez mais no Café Turismo antes de iniciar a volta de carro à vila de Penacova.

 

Volta à vila de Penacova.


Buzinão atrás de buzinão, a caravana percorreu os meandros da vila, deu a volta ao Mirante Emídio da Silva e depois dirigiu-se para a ponte José Luciano de Castro, onde do lado oposto se encontra a placa de homenagem a Artur Amaral. Este ilustre penacovense era um acérrimo defensor da Tradição, além de ser um escritor de requinte, com um estilo muito próprio que os amigos e conterrâneos recordam ainda hoje com saudade. Este ano, coube a Paulo Dias proferir o discurso de homenagem a este vulto do nosso concelho. Só que ainda o discurso não ia a meio, o São Pedro voltou a pregar uma partida aos presentes e forçou a adiar tudo para o jantar que se seguiu. Ainda assim, tal revés não impediu os mordomos de lançar às águas carregadas dos Rio Mondego o tradicional ramo de flores em homenagem a Artur Amaral.

 

Placa de homenagem a Artur Amaral, na Estrada Nacional 2, logo a seguir à ponte José Luciano de Castro.


E eis então que, às 20h e pouco, uma avalanche de mais de cem penacovenses se acumulou no restaurante O Cantinho de Arsénio Gomes, histórico estabelecimento de Penacova, que desde a pandemia transitou para o edifício das Piscinas Municipais, espaço bem amplo e propício tanto a um jantar familiar como a grandes eventos como este.


Caneca brinde oferecida a todos os participantes no jantar no Cantinho de Arsénio Gomes.


Após receber a caneca brinde, a maioria dos presentes optou pelo tradicional bacalhau com todos, mas quem não gostasse tinha à sua disposição bifinhos com cogumelos. Tudo devidamente escudado por bebidas de cor branca, bordeaux ou amarelada. Isso e boa disposição encheram a barriga às tropas para a altura da tão aguardada leitura da Ata da 61.ª Edição dos Solteiros x Casados de Penacova.


Dois dos ilustres mordomos, Pedro Martinho (à esquerda) e José Cunha (à direita), juntos pela amizade e pelas águas de cor bordeaux.


Como já tinha referido, a malfeitoria de São Pedro horas antes, obrigou a que Paulo Dias lá tivesse que recomeçar o seu discurso de homenagem, que foi uma verdadeira aula de história pincelada com laivos de humor que fizeram jus ao homenageado. 

 

Paulo Dias a proferir o discurso de homenagem a Artur Amaral, excecionalmente adiado para o jantar, pela forte chuva que o interrompeu ao final da tarde. 


E depois finalmente chegou a vez de Pedro Rico assumir o palco e proceder à Leitura da Ata. E no decurso, houve lugar à nomeação da comissão organizadora da edição de 2026 que certamente ajudará a manter viva uma Tradição reatada em 2022, após a obrigatória suspensão motivada pela pandemia, por um destemido conjunto de penacovenses que incluiu: Armando Mateus, Bruno Esteves, Christopher "Kiko" CarvalhoGuilherme Alvarinhas, José Cunha ("Zé do Judo"), Luís "Teodoro" Rodrigues, Marco OliveiraPedro Martinho, Pedro RicoPedro Viseu, Ricardo "Riki" Almeida e Tiago Alvarinhas. A estes e a todos os que também se mobilizaram para os ajudar, o meu obrigado! 


Pedro Rico na árdua e já habitual tarefa de Leitura da Ata de mais uma preenchida reunião dos Solteiros x Casados, ladeado por um dos mordomos da próxima edição, Pedro Viseu, o dono do restaurante, Arsénio Gomes, e por outro futuro mordomo, Luís "Teodoro" Rodrigues, que contribuiu decisivamente para que a carne e as camisolas não faltassem durante o almoço.


E aos próximos mordomos endereço os meus votos de boa sorte para que em 2026 a Tradição se cumpra.

 

Viva os Solteiros x Casados!

 

Viva Penacova!


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Bibliografia: https://penacovactual.eu/2023/04/05/a-tradicao-mantem-se-nos-59-anos-dos-solteiros-casados/?amp=1

quarta-feira, 7 de maio de 2025

Barcelona 2025 - parte 5: um última dia em grande!

 Conforme prometido na parte 4, vou agora ao Amalia’s Portuguese Flavours, onde tomei o último desayuno nesta viagem a Barcelona. Pedi uma sandes mista de pão integral e um galão. Pedir um galão em vez dum café au lait já de si era português o suficiente, mas para dar ainda mais aquele toque lusitano ao pequeno-almoço, adicionei um pastel de nata ao pedido.

Com o dono do Amalia's, o simpático Tó Zé!


A casa rapidamente foi enchendo à medida que o relógio passava das 9h, mas a azáfama não foi impediu de travar um pouco mais de conhecimento com o dono do estabelecimento, de seu nome To Zé. O simpático e dialogante português oriundo do Norte de Portugal, encontra-se emigrado há já 40 anos, primeiro nos Países Baixos e mais tarde na Catalunha. O espaço do Amalia’s é bastante agradável, tem à nossa disposição uma variedade de doces tipicamente portugueses, dos quais, além do pastel de nata que saboreei, há a destacar as Tortas de Azeitão e o clássico bolo de arroz.

 

Pequeno-almoço no Amalia's Portuguese Flavours


Para este último dia reservei a manhã para visitar o Arc de Triomf, outrora a entrada principal da Exposição Universal de 1888, e agora um marco imponente que convida os turistas a percorrer o Passeig de Lluís Companys, que nos conduz ao majestoso Parc de la Ciutadella.

 

Majestoso, sem dúvida, mas (in)felizmente parcialmente em obras com conclusão prevista para outubro deste ano de 2025. Assim, a sua beleza encontrava-se perturbada pelo ruído das máquinas em trabalhos. Não obstante, recomendo vivamente a visita a um local onde um casal pode andar meia hora de canoa por 7€, remando vagarosamente na tranquilidade das águas de um lago, em comunhão com os cisnes que o ornamentam. 

 

A beleza do lago no Parc de la Ciutadella.

 

Outras das atrações que me chamaram à atenção foi a imponente fonte Cascada Monumental. O nome fala por si. O efeito visual das águas a mergulharem no pequeno lago, ladeadas por dois lances de escadas que se abraçam no cimo de um edifício onde no topo reina o coche conduzido por três cavalos reluzente como ouro é simplesmente arrebatador! Uma prova da influência francesa na Catalunha, a fazer lembrar as extravagâncias do rei Luís XIV.

 


A imponência e exuberância da cascada monumental no Parc de la Ciutadella.

 

Depois de encontrar o caminho para sair daquela selva de beleza era para me dirigir diretamente ao hotel e fazer o check-out, mas pelo caminho dei de caras com o Museu Bansky de Barcelona e então decidi pagar a entrada e visitar a obra dum dos mais renomeados e enigmáticos artistas urbanos dos tempos contemporâneos.

 

Uma das obras mais emblemáticas expostas no Museu Bansky em Barcelona, que nos desvenda as origens de Steve Jobs.


Já eram onze e tal quando saí, parei num Carrefour Market, para lanchar um iogurte e um pão, continuei para a Plaça de Catalunya, depois passei a Universitat de Barcelona e finalmente cortei à direita para o hotel.

 

Check-out efetuado, mochila posta às costas, apanhei de novo o Metro L5 na paragem Hospital Clinic, onde havia chegado no segundo dia, e rumei em direção a Collblanc, no distrito de Les Corts. O objetivo deste desvio era concluir esta incursão a Barcelona, com às instalações do FC Barcelona. Como o emblemático Camp Nou se encontra em remodelação, a sempre apetecível stadium tour teve de ficar para outra visita e ser substituída por uma experiência imersiva. Mas antes disso fui almoçar. Escolhi um restaurante nas imediações do estádio, o Corleone. E para não destoar das minhas outras experiências gastronómicas nesta viagem, esta escolha também não foi a mais acertada. Mas também quem pede ovos rotos e polvo à galega num restaurante italiano põe-se a jeito. Ainda assim, o espaço era visualmente agradável e permitiu-me aproveitar o tempo até à hora da visita para rascunhar esta crónica que agora acabo de publicar.

 

No restaurante Corleone, muito próximo do Camp Nou, a rascunhar esta crónica.


Avançando, então, para a tour blaugrana, devo dizer que foi uma autêntica e maravilhosa viagem à minha infância, adolescência e início de vida adulta. À entrada somos chamados a tirar uma foto com o cachecol do Barcelona, que depois teremos de pagar no final se a quisermos guardar. De seguida entramos num setor que reúne diversa memorabília devidamente ordenada pelos períodos da história do Barça. No final à direita somos impelidos a sentarmo-nos enquanto corre na tela o vídeo promocional da academia de La Masia, berço de grandes talentos como Messi, Iniesta, Xavi, Piqué, entre tantos outros ídolos do futebol mundial. 


Mural de homenagem à Academia La Masia.


O passado dá lugar ao presente na secção seguinte. Nela podemos ver diversos pilares revestidos com ecrãs táteis que nos permitem fazer o tão moderno scroll e selecionar um dentre os futebolistas que compõem os atuais plantéis séniores masculino e feminino da turma catalã. 


Um dos pilares eletrónicos do museu, onde podemos ver as estatísticas dos jogadores e jogadoras do FC Barcelona, neste caso com o número 9 - Roman Lewandowski.


Depois segue-se o museu propriamente dito, com o desfilar dos inúmeros troféus conquistados ao longo dos anos, com óbvio destaque para as cinco “orelhudas” que simbolizam a vitória em cinco edições da atual Liga dos Campeões da UEFA.

 

Eu junto à réplica da Taça da Liga dos Campeões conquistada pelo FC Barcelona em 2011, que teve lugar em Wembley no dia do meu Baile de Finalistas do 12.º ano.

Se isto já seria mais do que suficiente para me prender durante largos minutos, o que se seguiu foi ainda mais sedutor. Serpenteando o museu chegamos a uma parede inteira repleta de camisolas do FC Barcelona. Aí encontramos exemplares das várias camisolas principais e alternativas desde os anos 60 até aos anos mais recentes. Sendo eu um colecionar de peças deste género, não pude deixar de examinar cada uma com a minúcia possível, ao ponto de descobrir que os exemplares da Nike da transição dos anos 90 para os 2000, vestidos por Luís Figo, Fernando Couto, Vítor Baía e Simão Sabrosa, foram fabricados nada mais, nada menos do que em... Portugal! Sim, em Portugal! Eu, que já sou de uma era em que a indumentária desportiva é quase toda ela fabricada em países asiáticos, fiquei estupefacto ao descobrir que há vinte-trinta anos atrás, a gigantesca marca norte-americana que me calçava nesse dia, tinha atividade no nosso país!


Pormenor da camisola principal do FC Barcelona da época 2001-2002, fabricada em Portugal.


E da sedução das camisolas passei para a sublime prisão da nostalgia.

 

Sim, porque de costas voltadas para o mural das camisolas, encontrava-se outro mural, este eletrónico, que nos permitia escolher dentre os diversos momentos altos das várias modalidades blaugrana e revivê-los em vídeo. Eu que quase só acompanhei o futebol, pude regressar aos piques de Ronaldo Fenómeno, à bicicleta de Rivaldo, ao golo de Belleti em Paris, à magia do primeiro Barcelona de Guardiola, aos feitos épicos do trio Messi-Suarez-Neymar... Enfim, tanta, tanta coisa, que me lembro apenas de tirar a mochila das costas, pousá-la junto aos meus pés, e simplesmente ficar ali, detido quase uma hora, os olhos fixados no ecrã à medida que assistia ao sedutor e ternurento desfilar da “minha vida”.

Mural de homenagem a Leonel Messi no Museu do FC Barcelona.


O aproximar da hora de fecho da experiência imersiva fez-me despertar do sonho. Peguei na mochila e segui em frente, onde esbarrei logo no mural de homenagem a Leonel Messi. À direita tínhamos a entrada para o túnel de acesso à experiência 360, uma sala circular envolvida numa tala a toda à volta que exibe uma sucessão de vídeos com vários momentos da história recente do FC Barcelona, verdadeiramente galvanizante.

 

Um vislumbre da Experiência 360 que termina a viagem pela Tour FC Barcelona.

 

Finda esta experiência ainda houve tempo de visitar a loja oficial e reviver o dia em que comprei uma camisola do Deco e o meu falecido primo André a camisola do Messi, que naquela época de 2006/07 ainda era apenas uma jovem promessa que ostentava o número 19 nas costas.

 

E assim terminou uma viagem que era só para ver um espetáculo de wrestling, mas que acabou por evoluir para um excelente fim de semana prolongado, num lugar onde já fui muito feliz.