sábado, 5 de janeiro de 2019

Memórias do Ano Comum - Parte 2: A primavera de Faro

Dobrado o inverno e já mais habituado à rotina hospitalar, a primavera fez florescer um estágio de Cirurgia bastante interessante. Durante o curso em Coimbra fui bombardeado com patologia cirúrgica e, como tal, sentia-me preparado para o tipo de doentes com os quais iria trabalhar. Pediatria tinha-me feito ganhar estaleca e da parte da minha equipa médica nunca faltou apoio nem boa-disposição. Tive sorte... é que vi colegas, não obstante trabalharem muito e bem, serem injustamente criticados por falhas que não eram de todo da sua responsabilidade e competência... Ainda pude rever caras conhecidas de Coimbra e privar com um dos melhores Diretores de Serviço que até hoje tive o privilégio de conhecer. O seu sentido de humor característico e ativa presença nos longos dias de urgências e cirurgias ficarão guardados na minha memória como um grande exemplo de profissionalismo!

Entretanto, nem tudo florescia na primavera de Faro. As relações humanas acabaram por tomar o seu natural curso outonal, em que só certas folhas acabam por persistir. Por isso, não foi pois de surpreender que, após um período inicial em que todos se procuravam conhecer, os grupos se foram construindo e as grandes jantaradas de janeiro e fevereiro dando lugar a repastos mais contidos no número de participantes... mas não na euforia! De facto, a vida social é um marco incontornável do Ano Comum em Faro. Não há muita variedade de oferta na diversão noturna, mas sem dúvida que a constante animação da Baixa de Faro é algo de muito especial! O roteiro pelos habituais bares... e aquela deliciosa fatia de pizza às tantas da madrugada... que saudades!

Até finais de maio foi muita a folia aos fins-de-semana. E nem só de noite eram feitos estes dois dias da semana, pois o bom tempo permitia já desbravar os recantos mais belos do Algarve, como a Cascata do Pego do Inferno em Tavira. No entanto, com a aproximação do período de escolha da especialidade, o ambiente foi-se enublando... Afinal, não nos podemos esquecer que para uns entrarem naquilo que desejam e onde pretendem, outros terão de ficar de fora. E desde há uns anos a esta parte, ficar de fora é mesmo a dura realidade para muitos colegas: é que já não existem vagas de especialidade para todos os que fazem o Harrison, o exame que até este ano permitia aceder ao Internato de Formação Específica em Portugal. Perante tão desolador cenário, alguns resolvem fazer as malas e procurar a sorte noutro país. A maioria acaba por escolher repetir o exame, e por isso, maio e junho foram meses de debandada em Faro. Recordo com saudade os colegas que tiveram de regressar a casa para voltar a estudar para a prova. Espero que desta vez consigam triunfar!

Estes meus colegas não puderam já disfrutar em toda a sua plenitude das maravilhosas praias que o Algarve tem para oferecer. É que estávamos no início de junho... e o melhor ainda estava para vir!

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